Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Não vou falar do Natal...juro!!

Nem das prendas com laçarotes a empolgar as oferendas, nem sempre grandes na vontade mas enormes no querer retribuir para não ser diferente.

Nem dos cânticos que ecoam pelos cantos e recantos a lembrar angelicais criaturas, nuas e em poses sagradas.

Não vou falar dos tradicionais presépios que se fazem e refazem em mil e uma matéria, ricos, pobres, simples ou mais compostos, com iluminações que se conseguem ver de Plutão, gastando o que se diz necessitar poupar, enfeitando becos e ruas por calcetar. Nem de missas de galos, com galinhas e perus com pecados, ou bocados, de caril a escorrer pelas carnes fracas.

Não irei perder o tempo a falar do estado laico que vê os seus governantes a beijar o pé ao menino e a mão ao papa.

Não me cansarei a discutir a escola, onde supostamente entram todos os filhos dos outros, com crenças várias ou sem crença alguma, com educadores ( a impingir aos meninos a moral de outros e onde lhes pedem para desenhar santinhos, cantar ao menino e á virgem Maria (ensinarão o que é uma virgem)

Não me chamem para falar das mesas fartas e ver sacos com batatas para doar aos Bancos…

Não me perguntem se já fiz as compras de Natal…ou a árvore ou as filhoses. Compro tudo no carnaval, serve para todo o ano.

Não me chateiem com mensagens de ocasião, copy paste de boa vontade mas de pouca imaginação.

Não quero saber das montras enfeitadas de brinquedos a ofender a miséria dos meninos. Não me digam que é tradição, a falta de sentido e a pouca vergonha.

Não me mostrem ceias nas casas de abrigo ou Natal nos hospitais…prefiro o Big Brother ao vivo ou A Vida Animal.

Não quero ouvir missas, nem gosto de circo.

Não me chamem para festas de grandes empresas, com empregados à espera de trabalho…mas fartas as suas mesas.

Não me mandem postais de boas festas, mandem-me festas sem postais.

E o bolo rei? Porque não me dão antes pasteis de nata? Gosto de cremes e massa estaladiça, não quero favas nem frutas pouco naturais.

Nem pedir ao” meu menino” que escreva ao pai natal…vai escrever ao 1º Ministro …é quase igual.


Não, não vou cair na asneira de falar dessa coisa feia a que chamam Natal

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O mê Alegrete é um Sonho...


Hoje levanti-me com o sentidinho todo posto numa única ideia, era fixa mesmo a magana.
Vou fazer sonhos de natali!!!!!!!!!!!!!!
E vou dar por ai a todos do mê monti, se depender de mim a ninguém faltará sonhos este ano.
Se bem dito..bem feito! Ou bem sonhado bem concretizado…
Decidida estava e depois de me lavari e vestiri, fui pra cozinha pronta pra labuta dos sonhos.
Ora bem, tinha a receita antiga da minha avó Luísa mas como ela bem me dissera um dia, teria que colocar algo de mim e inventar um pouco, só um pouco...(juro)
O lume acesso pra fazer as brasas suficientes e cozer os sonhos, disso lembrava-me, em tempos a minha avó Luísa tinha deixado bem claro a importância de um bom lume para fazer sonhos..
Coloquei a lenha lá dentro, a mais sequinha e do tamanho certo (tudo tem uma medida!) e pegui num fósfaro e acendi o lume…pronto tá beim..foram cinco mas só porque estava vento e eu deixara a janela da porta do quintali aberta..que eu cá sempre subi acender um fosfaro!
Olhi maravilhada pras chamas, alem de me aquecerem o cara, bailhavam-me nos zolhos deixando-me praticamente hipnotizada por segundos…aquelas cores quentes e aquela dança das labaredas fizeram-me crer que iria conseguir fazer uns belos sonhos sim senhor…é muito importante confiarmos e eu estava confiante ,talvez plo calor que me fazia aquecer a alma naquele momento…
Olhei pra mesa da cozinha e estava lá tudo que é necessário, um alguidar de barro pra massa, duas colheres de pau, um Salazar (ainda do tempo da outra senhora pra quem a minha avó trabalhara muitos anos…) que mesmo gasto ainda raspa bem os tachos todos, um ralador, canecas pra servir de medidor, e varias colheres para formar os sonhos…
Coloqui o avental (branco e bordado com flores amarelas e azulis..ainda me lembro a primeira vez que o usi pra fazer sonhos e de como me ficara sempre bem aquele aventali…ai ai nam sei se já vos conti mas tudo me fica bem desde que seja feito á minha medida…)e com um lenço da mesma "não cor" para prender os cabelos, deiti mãos à obra..


2 canecas de farinha de trigo
(mais coisa menos coisa deve dar as 250 gr que vi ali no google)..a caneca é daquelas almoçadeiras
Junti ao leite (3 dl) que já tinha ao lume com uma pinguinha de óleo( 1,5 dl) e uma pitadinha de Sali, do fino claro.
Misturi a farinha com mta genica…misturi mais e mais e mais enquanto pensava na vida…a de antes e a de depois que haveria de vir, caso eu sonhasse sempre, não deveria vir muito má nam senhori. Misturava e volta e meia parava a pensari…quando dei por mim já a massa se deslocava do recipiente como querendo voar dali…estava na hora de juntar os ovos.
Eram seis os ovos, lindos, grandes ..ovais!
Nam eram todos de galinha nam senhori por monti que as minhas galinhas nam andavam mt poedeiras, desde que o Jacinto ( raio do galo) as começara a convencer a ir à missa todos os santos dias em preparação pra sua missa no dia 24 à noti.
Sendo assim usi 1de galinha, 1 de pata, 1 de cisne, 1 de gança, 1 de pirua e 1 de avestruz…acho que davam seis ovos certos plas minhas contas…
Parti um a um, lentamente..bati com a casca na borda do alguidar de barro, com o click ou seria antes crachhhhh? Bem nam importa, depois colocava os dedos e abria...
lentamente..nem sei bem o que esperava encontrar…lembro-me uma vez que saiu um pinto e desde ai esta tarefa era sempre feita como se de abertura de uma caixinha de surpresas se tratasse…acho que deve ser isso que a gaitada toda sente quando abre os ovos de chiculate ….
Tive mais dificuldade a abrir o de avestruz, não pelo tamanho do dito mas pla minha ansiedade..imaginei tanta coisa!! Mas lá se juntaram as gemas amarelas e alaranjadas às claras…num emaranhado de cores e texturas, deliciei-me novamente a mexer os sonhos..fazia-me bem aqueles momentos..em que ainda podiam ser tudo o que eu quisesse…imaginei formas..cores..cheiros..sabores…
Uiii os meus sonhos!!
Bem continuando que vocêzis nam deve ter o dia todo pra aprender a fazeri sonhos..
Por fim juntei uma casquinha de limão e estava pronto a ir a fritar.
Limpi a mesa e dirigi-me de alguidar na mão pra junto do forno onde já se ouvia quente o óleo, esperando como que ansioso também, a massa…aquele momento era digno de um filme..quase se ouvia os gritinhos histéricos do óleo a dizer: deita deita…ou..ponha ponha?? Bahh uma coisa dessas…
Com as colheres fiz os sonhos, um a um cuidadosamente..
Juntei, aconcheguei, passei de uma pra outra, dando forma e deixando deslizar por fim, da ultima colher para o óleo quente…ai eram a parte onde tudo se decidia.
Ao cair no óleo a massa enchia-se de vontades, engordavam os sonhos a olhos vistos.
E eu ficava a revirá-los deliciada com a maneira airosa com que se encostavam uns aos outros, frutos da imaginação, do gosto pela sua doçura, do prazer do seu cheiro..eu simplesmente perdi a noção do tempo..polvilhando com açúcri e canela depois de fritos..enchendo pratos..taças…travessas…tabuleiros…era um montão de sonhos pla casa…o cheiro inundava o alegrete de certezinha..e eu estava-me sentindo orgulhosa plo resultado dos meus sonhos…imaginava já o Ti Chico a chegar, salivando e de olhos esbugalhados prós sonhos…a Ti miséria, essa nunca mostra parte fraca mas acredito que quando os visse não se iria conter e comeria mais que um…lambendo os lábios entre um e outro.
Ai que lindos os meus sonhos!!
Ainda quentes..ainda tão apetitosos…ainda tão recém sonhados.
Estava eu nisto quando ouvi um toc toc toc…ou seria truz truz??
Bahhhhhh tanto faz!
Era alguém a bater a porta…e fui abrir, mas antes pergunti :
- Queim ei??

Sim, porque nam quero que pensem que estou sempre ali detrás da porta à espera que alguém apareça…
Nam responderam…insiti:
-Queim eiiiiiiiiiiiiiiiiii?? (contive-me pra nam dizer porra que podia parecer mali)
E desta vez ouvi do outro lado..
-Sou eu!
- E eu!
E ainda mais um..
- E eu também sou!
Mau Maria Joséi..pinsi!
Então eram Um ..Um Outro e Mais Outro?
Agarri na ponta do aventali, limpi as mãos e fui direitinha à porta pra veri mesmo quem era…um..o outro e mais outro..
Ai vocêzis nam vão acreditari..ai nam vão não senhori…
Tá beim…porra que nam me deixam fazeri o suspensi necessário pra isto ficar como os filmes do Hitchcock…o tal com o mesmo nome que o mê pirum (bichoooo..s) mas pronto…mais perdem..
Então assim que abri a porta..ela fez aquele barulho de porta a abrir com vontade mas sem querer dar nas vistas…lentamente rangendo..grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr ou grugsggg ou assim..e assim que abri vi os três…sim senhori..eram mesmo os três, nam me tinham mentido...bom começo!
Um, o Outro e Mais Outro…ali ,mesmo ali à minha frente.
Disse: bonoti ,faxavori….
e eles responderam…
-Bonoti cumadri…somos os três

(ora ora ora grande novidade..pinsi eu que já os tinha contado)

Reis Magros..
Upsssssssssssssssssssssss disse eu…e já sabem como fico quando me apanham assim de surpresa nei?
Almareios
Tonturias
Gomitos
E nam me lembro de mais nada senão de me estatelar no meio do chão…


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Tamos aqui tamos no Natali...estórias do mê Alegrete

Hoje acordei no meio da palha.
As maganas das vacas andavam nervosas…
Isto quando se aproxima o natal não há quem as segure…é que nunca se sabe qual delas será a escolhida para bufar o menino
A Hirondina, a mais velha e boa vaca leiteira, meteu na cornamenta que deveria ser a eleita, a Miquelina, a mais nova e ainda pouco dada aos leites, achou que era hora das novas oportunidades e gerou-se uma confusão que nem o Tónio, o boi do mê monti, as conseguiu separar.
Aquilo estava num reboliço tali que lá tive que ir de manta e almofada a druimiri pra junto delas.
Ao acordar estava um frio de rachar a alma, olhi pra elas como quem nem acredita que ainda passasse pla cabecinha de alguma ir servir de aquecimento ao menino….por mim não iriam ter carta de recomendação não senhori.
Sai dali deixando bem claro que não queria voltar a meter-me entre elas, olhi pró Tónio com um olhar cúmplice ao qual ele respondeu com um raspar de casco no chão e lá fui a veri como estaria o resto da bicheza.
Ao sair do estábulo o dia ainda nem clareava o suficiente e catrapum, tropeci numa coisinha arredondada, tal quali um bolego da ribêra…mas só deu pra veri que nam era quando ao ser alvo do mê encalhanço proferiu um glu glu muito aflito e dasatou a correr à minha frente.
Esfregui os zolhos, mais que uma vez como devem calcular, custou-me a acreditar que os bolegos andassem e fizessem Glu glu…..pari e griti-lhe:
-Alto lá !
-Alto lá!!! (gosto de repetir as ordem)
Pare já disse!! plos vistos não há mesmo duas sem três…
E o magano parou, ficou-me a olhar com uns zolhos muito assustados e a fazer um glu glu muito aflitivo. Foi ai eu vi claramente que se tratava de um dos meus perus mais gordos e afanados, meio doido é certo mas nunca antes se fizera passar por um bolego.
Ohh Alfredo Alfredo (disse-lhe eu com voz austera e firme que só eu sei fazer quando nem sei bem o que quero dizer a seguir)
E ele olhava-me com ar envergonhado, até me pareceu que corou.
Ohhhhhhhh Alfredo Alfredo !! repeti novamente para ver se me dava tempo a ter alguma coisinha que dizer.
Ospois lembri-me, estávamos quase no natal e o mê Alfredo estava simplesmente a tentar fugir da triste sina de ser ceia na consoada de alguém.
Ai que até se me vieram as lágrimas aos zolhos! Afaguei o bicho e em voz já mais meiguinha (sim, também sei fazer vozes dessas volta e meia…) prometi-lhe que nem que me dessem o valor de 3 perus como ele eu o venderia para tal fim.
Levanti-me e esperava ver uma reacção por parte do bicho mas nada, olhou pra mim com aqueles mesmos zolhos de peru em vésperas de Natal, fez mais um Glu Glu e voltou a fazer de bolego no meio do caminho do monti.
Bahhhhhhhh pinsei eu, encolhi os ombros e segui caminho fora.
Mas quanto mais andava mais pensava no que estava a acontecer no mê Alegrete mal chegara o mês de Dezembro.
Agora entendia o motivo que levava o mê galo Jacinto andar a cantar fora de horas e com uns cócórócócós mais esganiçados enquanto as galinhas pareciam ficar de joelhos à sua volta… afinal tinha tudo uma razão!
Continui caminho e só pari na casa do Ti Zéi, encontrei-o a olhar pró pinheiro, nem sei bem aos anos que aquele pinheiro estava ali plantado…plantado literalmente plantado..plantado metaforicamente plantado também sim senhori.
Oh Ti Zéi atão que se passa homi?
Mas ele nem me disse bundia nem nada, continuou a olhar a olhar e ao mesmo tempo passava a mão plo tronco do pinheiro…é nestas alturas que entendo porque há alguns a que se chamam mansos.
Ti Zéi!!!!!!
Ai cumadri vocei desculpe, estava aqui a pinsar na vida é o que éi. Disse-me ele sem sequer olhar pra mim.
Pois cumpadri eu até entendo, a vida dá-nos muito que pensar sim sr. mas diga-me lá homi, que se passa hoje que nam se passe amanhãe e que possa pensar depois?
Sabe cumadri, estou com um dilema ei o que ei.
Di queim?
Di lema cumadri.
Ai compadri nam me diga!!!
Ai compadri vocei nam me diga!!
Já disse cumadri…já disse.
Olhi-o pra veri se ele se explicava melhor e como tali nam aconteceu chegui-me à frente.
Agarri-o plos ombros e disse:
Força compadri, nam se deixe ir a baixo homi, sabe que já ouvi dizer que os médicos já operam tudo e se nam for cá é no estrangeiro. E sabe que pode sempre contar cá com a cumadri pró bom e pró mau que aparecer compadri.
E estando eu a fazer o que pensava ser o mê deveri, como comadri e amiga de longa data (nunca entendi porque raio há datas assim, deve ser por mondi uns meses terem mais dias que outros ou assim..) bem, dizia eu que estava a animar o mê compadri por mondi o seu Dilema quando ele olhou pra mim com cara de que nem me estava a escutar bem e disse:
Cumadri, vocei já fez a 4ª á noite nam foi?
Hummmm
Hummmmmmmmmmmmmmm
Disse eu.
Sim cumadri, dilema é um lema em duplicado melher…quer-se dizer. Tenho que escolher um e nam sei qual, é o que ei.
Nam estava a gostar nada da sensação de não saber que raio era aquela coisa que o mê compadri falava e pra nam variar muito fingi que entendia do assunto.
Ora compadri, escolha o que dê menos trabalho de fazeri.
Respondi convencida que ficávamos por ali na conversa.
O Ti Zei olhou-me, desta vez tirando a mão do tronco do pinheiro (foi aqui eu vi que tinha um machado na outra…e nam sei bem porquê di um passo atrás e fiz um sorriso de orelha a orelha disfarçando os nervos)
Ele deu um passo na minha direcção, eu dei outro pra trás e quando estava mesmo mesmo a agarrar as saias pra largar a fugiri ele disse-me:
Cumadri Marizei, nam sei se lhe corte os ramos e diga “O Natali sem pinheiro nam ei Natali” ou nam corte nada e diga “Natali pra ser Natali ao pinheiro nam faças mali” tá a entenderi cumadri?
Ainda pensi ser sincera mas resolvi responder que sim…nam fosse a doença dar-lhe prá violência como eu já estava a suspeitari.
Afinal aquilo do Dilema era mais grave do que eu imaginara…coitado do homi, que o viu e quem o vê!!
Deus há-de ser grande e fazer com que a ciência encontre cura pra esta maleita a tempo.
Acabi por deixa-lo e corri direitinha à igreja onde sabia encontrar sempre a Ti miséria, ora a limpar a sacristia ora a juntar as misérias dos outros, em sacos com donativos prós pobrezinhos.
Mal a vi ela acenou-me de contente, é sempre bom sentir que ainda há quem goste de nos veri..só a Miséria mesmo pra ser sempre tam boa comigo.
Aceni-lhe também e senti-me num dos bancos de trás a esperar que ela viesse ter comigo. Tinha que falari com ela para por fim a tanta confusão no monti.
Nam tardou e veio sentar-se junto a mim, fazendo aqueles gestos na cara e sempre de frente pró altari, nunca entendi beim porque raio ela fazia aquilo mas achava-lhe uma certa graça e nam lhe pregunti nada…cada um com as sus coisas pois então.
Mal se sentou, logo de seguida se ajoelhou, ainda pensi que lhe tinha caído alguma coisa ou que ia continuar nas limpezas da igreja, asseada que só visto a minha cumadri Miséria.
Mas plos vistos engani-mi, de joelhos e de mãos postas, baixou a cabeça e começou a falari remoendo pra dentro palavras que nam lhe consegui entender nadinha.
Foi então que fiz o mesmo, sempre ouvi dizer que nos devemos juntar a eles quando com eles nam podemos..e embora magra, a cumadri era melher de peso que eu sabia.
Já de joelhos e de mãos postas arrepari que nam tinha o mê aneli..mau! terei deixado o dito no canteiro da Salsa quando fui veri onde raio paravam as modas logo de manhã?
Depois teria que lá voltari, se fosse o caso e com a sorte que tenho, anda estaria no mesmo sitio onde me caíra….é sempre assim, até quando deito o milho aos porcos, no outro dia ainda lá está todo.
Estava com estes pinsamentos quando a cumadri Miséria me pergunta entre dentes pró que venho.
Disfarci a voz tambeim, nam fosse alguém alem do senhori nos ouviri e disse-lhe:
Cumadri miséria, algo muito sério se passa no Alegrete. Só a cumadri me podi a judari..
Olhi-a mas ela continuava a rezar com muita fé, tanta tanta que até franzia os zolhos e via a força com que apertava as mãos…ainda me pareceu ouvir algo parecido com “ainda meu deus o que será desta vez?’”…mas deve ter sido impressão minha que a cumadri já me disse que de Deus nam espera respostas…bem, levanti-me e olhando pra ela disse:
Cumadri, preciso que me ajude a esconder o menino!!
Disse e senti-me, e foi ai que vi que a igreja estava cheia e o sr. Prior tinha parado de dizer a missa, olhavam-me todos com uma cara de poucos amigos…e por momentos senti o peso da fé nos meus ombros…ajoelhi!
Nesse momento a Ti miséria só dizia baixinho…disfarce comadri, disfarce por favori e reze, reze muito.
Pai Nosso, Ave Maria…Ave Maria, Pai Nosso…é sempre a mesma coisa, das canções só me lembra dos titalus!!!
Uffff

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

INUTENSÍLIOS


Hoje Não me apetece fazer Nada que jeito tenha.

A utilidade de Nada fazer é algo que só quem Nada faz consegue entender.

Um inutensilio serve o proposito do utensilio, servindo para Nada...

e o objectivo do inutil, Nada fazendo para o contrariar.

Perfeita a coisinha que Nada serve!!

Iluminado o inventor de tal Descoisa...

Mas que invento maravilhoso este!!!

Não servindo para Nada, Nada, Nadica mesmo lhe pode ser exigido.

Ser usado apenas para Desvontades...Desapetites..Des-gostos!!!

É enorme a quantidade de coisas que Não se fazem com um inutensilio.

Até as que Não se dizem sobre o dito cujo, há até quem pense Nada escrever sobre o assunto...

Espero que tenha sido clara!

terça-feira, 14 de abril de 2009

NÃO HAVIA NECESSIDADE...TSS TSS TSSSSSSSS


AS NOVAS FUNCIONÁRIAS DA LOJA DO CIDADÃO EM FARO...


Nada de alarmes, estão ainda em estágio e ao fim de um mês irão ter uns bigodes lindos..


Mini-saia? está provado cientificamente que o uso de Mini-saia provoca graves problemas psicológicos, quiçá irreversíveis. Zelamos pelo bem-estar dos cidadãos.


Decotes exagerados? Está provado cientificamente que são os principais causadores de dores no peito, ansiedade, problemas de sucção e salivação na andropausa e quiçá uma obsessão gravíssima por renovação de B.I e cartões de eleitores.


Gangas? Está provado cientificamente que são sinónimo de vulgaridade, causam no cidadão a falta de auto-estima e pode quiçá chegar à ideia de igualdade de classes.


Perfumes agressivos? Está provado cientificamente que são os perfumes agressivos os causadores de divergências conjugais, por vezes estão na origem de alergias gravíssimas que origina uma doença crónica que leva a alucinações e impulsos estranhos (há relatos de quem tenha oferecidos flores a desconhecidos), snifar constantemente é outro dos sintomas desta doença.


Saltos Altos? Dores de cabeça, sentimentos de inferioridade, dificuldades de audição, são causados pelo uso de saltos altos. Em casos extremos pode levar ao aumento de divórcios.


Roupa interior de cor escura? Está provado cientificamente que pode levar ao homicídio, embora na sua maioria com culpas da vitima e em situações ainda mais graves poderá chegar à violência doméstica com uso de instrumentos de tortura como chicotes, algemas e afins..


Por tudo isto caro cidadão, está provado que zelamos por si, pela sua saúde e bem estar e como tal temos na nossa loja funcionárias que irão olhar por si como irmãs.

A partir de agora terá um serviço personalizado e acredite que depois de satisfeito se sentirá no céu. Enquanto espera, poderá ouvir os bonitos cânticos do coro das irmãs Carmelitas e pode aproveitar para se confessar..dispomos de WCs apetrechados de confessionário e em caso de sentir um ratinho no estômago, poderá ainda usufruir do excelente serviço de bar onde lhe será servido chá de água benta e hóstias confeccionadas pelas sagradas mãos das nossas funcionárias …

Existe livro de reclamação..com ilustrações da bíblia que esperemos que seja do seu agrado.

domingo, 12 de abril de 2009

O CIRCO CHEGOU À CIDADE


Luzes

som

Cor

Aplausos

Entram os palhaços e os contorcionistas

Malabaristas e domadores

Tocam trompetes

Tambores e ferrinhos

Há algodão doce e outros docinhos

Fazendo delícias dos “espec..actores”.

De olhos abertos meio assustada

Vejo entrar a fera que dizem domada

Não mexo um dedo

Nem quero respirar

Não vá o bicho para mim olhar

No fim estremeço

Ao vê-lo sair

Que pena do bicho

Já sabe mentir

Depois os palhaços

De cara pintada

Olhos tristes

E roupa usada

Não ri como queria

Estaria a “mangar”?

Tanta mentira

Só dá para chorar

Depois os mágicos

Adoro sonhar

Fiquei só no sonho

Nada fez mudar

Há ainda os malabaristas

Jogam as facas

E saltam na pista

Não falha nada

Nada cai no chão

Todos aplaudem

É grande emoção

Só eu não vi

Valentia no feito

Foram bem treinados

Mas sem grande jeito

Queria palhaços para rir a valer

E ilusionistas

Que o saibam ser

Queria leões em vez de macacos

E homens que voam

Sem rede por baixo

Queria viver um circo

com feras

não bichos feitos homens sem braços...

Que entre o homem estátua

E a mulher barbuda

Já chega de sonhos

O circo não muda!!!

p.s (upsss ) qualquer semelhança com o circo politico actual é pura coincidência .


já agora se gostam de circo aconselho este :

quinta-feira, 9 de abril de 2009

FRUTA DA ÉPOCA

Gosto de colher a fruta quando ela já está bem madura, manias que me ficaram desde o dia em que levei com um pêro, duro que nem pedras, no alto da cabeça.
Hoje acordi com o cheiro adocicado dos marmelos no ar..
A manhã já não era como antes, clareava a medo e fazia aquele frio que apetece remexer gavetas à procura do abrigo que tão bem nos fica..há sempre uns trapinhos que nos ficam melhor que outros.
Alevanti-mi, lavi-mi, e enquanto me olhava ao espelhos (quase nada que eu nunca fui dessas pravoeiras..e a cada dia que passava o magano ficava com menos vistas e por isso nam quis maçar as minhas na tentativa de veri algo mais que sombras do que já fui) ia pensando que estava mesmo em bom dia de ir apanhar os marmelos.
Vesti-me, nam vos vou maçari a contar os pormenores das minhas vestis, até porque como fazia um pouco de frio coloquei umas pecinhas a mais do que o habituali, mas deixem-me só dizeri que as botas, essas nam largava nem com soli nem com chuva!!
Pegui no cesto e lá fui eu monti fora.
Logo que passi plos limoeiros achi que alem de verdes (os limões) nam tavam com boa cara..assim a modos que franzidos, cheios de caretas estranhas e as folhas em queda livre.
Homi esta!!! Será maleita?? (pinsi eu com a minha camisola interior)..mas segui caminho porque nam podia perder muito tempo em conversas ..
A seguiri olhei as laranjeiras que nem sei porque raio estavam mirradas, meio amarelas e falavam espanhol umas com as outras. Desta vez fiqui mesmo preocupada, já parecia coisa grave e eu sem tempo pra moengas.
Estava bem perto dos marmeleiros mas achei por bem ir dar a volta ao resto do pomar, pra ver se o Mali era geral ou se seriam só os citrinos com falta de vitaminhas.
AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII griti de susto ao ver as desgraçadas das maçãs todas cheias de dentadas.
Oh mê Deuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus que desgraça era esta que até a maçã não se escapava??
Oh mê Deuuuuuuuuuuuus mê Deusssssssss que este mundo tá perdido!
Ospois de gritar que nem uma doida alembri-me de que seria boa ideia chamar a Judiciária, eles haviam de descobrir os autores de tais dentadas ..sim, que cá eu ouvi dizeri que através das provas do crimi eles descobrem logo o criminoso antes que ele diga água vai..sim, já vi nos filmes que é assim!
Cá pra mim isto era um crime passional ..daqueles, que quando alguém passa nam consegue resistir à tentação.
Antes que ficasse mais tarde corri direitinha aos marmeleiros e quando chegui bem perto quase que me dava uns almareios, umas tonturias por mondi tanta afição…mas fiquem descansados que nam deu..

Olhi, olhi e volti a olhari..humm que coisa estranha!!!
Os marmelos estavam lindooooosssssssss
Tam lindos tam lindos que até estava com pena dos colheri do marmeleiro.
Grandes, bonitos e com umas cores!!!
Bem, resolvi nam perder tempo e fui-me a eles com as duas mãos.
Nem passaram 5 minutos e já tinha a cesta cheia dos mais lindos marmelos que já se viram no mê monti .
Segui direito a casa, tinha que fazer a marmelada enquanto os maganos ainda estavam bons..o tempo estraga a fruta logo que fora da árvore e sempre que apanhe muitos apalpões.
Enquanto os descascava e partia aos bocadinhos nam se me tirava do sentidinho a desgraça do resto da fruta, mas porque raio só os marmelos nam sofriam da maleita generalizada no mê alegrete??
Sim, mas Porque???
E tava eu com estas coisinhas na cabeça quando me entra pla cozinha o ti Bento aos gritos e a gesticulari.
Nãoooooooooooooooo cumadri, nãooooooooooooooooooooo mexa nesses marmelos!!
Disse ele sem me dar tempo de mais nada a nam seri de parari com a faca entalada num deles..ai cumpadri que susto homim!! Disse eu aflitinha e ia-lhe perguntar o porquê quando mesmo ali a minha frente, à frente deste Zolhos (esbugalhados mas de aflição) lindooos o marmelo que tinha a faca enfiada fez..ploff
E mesmo ali se desfez em ar.
Ploff… ploff…ploff..ploff..ploff logo se seguiram os outros mesmo sem eu lhe espetar a faca.
Ai cumpadriiiiiiiiiii quei isto?? Ai cumpadriiiiiiiiiiiiii que é que vocei fez aos meus marmelos??
E gritando como doida agarri o cumpadri plos colarinhos e abani-o com quanta força tinha..
Coitado do homi, ficou roxo e nem conseguia dizer nada.
Então pari e esperi por resposta, quando ele conseguiu endireitar-se olho-me e disse:
Tão comadri vocei nam sabe?
Eu? Disse ainda com ari de parva
Desembruxe..sim porque isto só pode ser bruxedo!!
E ele, já mais calmo disse:
Cumadri, anda coisinha ruim no pomar..
Isso já eu sabia mas fingi que era novidade, nam lhe quis tirar a alegria de do momento.
Sim cumpadri?? Atão que porqueim??
Ai cumadri ninguém sabe ao certo mas dizem que anda bicho na fruta.
Bicho? Disse eu.
Bicho? Disse eu novamente, que nestas coisas nunca é demais perguntar?
Sim cumadri, bicho ruim mesmo (disse ele com ar de sabido)
Cumpadri mas o bicho nam entra assim sem mais nem menos, plo menos na nossa fruta nunca entrou..(dizia eu ao mesmos tempo que não conseguia disfarçar o meu ar de orgulho)
Sim cumadri, eu sei que não..mas este ano parece que nam vamos ter grande colheita!!
E a dizer isto sentou-se e tirando o lenço da algibeira limpou a testa suada.
Olho-me, sério e com cara de quem a vida lhe anda pra trás e disse:
Cumadri, vamos ter que dar a fruta aos porcos!
Hum, nam era má ideia nam senhori..mas sabendo eu como eram os mês porcos nam sei se os faria comer tal coisa.
Então olhei-o nos zolhos e cheia de coragem e de convicção (volta e meia também tenho gases mas calhou bem neste momento nam me encher deles) disse-lhe:
Ti Bento, juntos havemos de conseguir!!
Abraci-o e já com algumas lágrimas a bailar-me nos zolhos disse enquanto me erguia com a faca em riste e cabeça bem levantada.
SEM FRUTA, MAS ORGULHOSAMENTE JUNTOS NA DESGRAÇA, VENCEREMOS!!
Nem sei bem em que batalha me estava a meter, só sei que o momento pedia acção..e eu dei-lha.

terça-feira, 10 de março de 2009

Estórias do mê Alegrete- FORA DE HORAS



Corria o tempo com a lentidão habitual no me monti. Até havia quem dissesse que para correr assim mais valia nem se moer e parar de vez. O calor era o mesmo dos meses de Julho, embora fossem frias as noites e o calendário mantivesse todas as folhas intactas. Era de folha caduca mas há já alguns anos, que sem se saber como nem porquê, mantinha as folhas de sempre..nem sei de que ano, mas pela cor devia ser de um ano muito antigo. Muitas vezes ficava ali a olhar pra ele na tentativa de lhe ver cair as ditas..mas nada acontecia. Nesse dia algo mais estranho se passou, o relógio de parede, que dava as horas ao som de uma Ave Maria que arrepiava até a alma, simplesmente silenciou..nada, nem horas nem minutos nem coisa nenhuma que me fizesse lembrar às contas andava. Como era a corda ainda pensei que a mesma tivesse esticado demais, que partira ou que me tivesse esquecido de dar à manivela. Mas não..desse eu as voltas que desse, com a corda toda, todinha, o magano nem se mexia. O ponteiro das horas estava bem juntinho ao dos minutos, assim num aconchego de solidões que até enternecia ..os números, suspensos na aflição de que se completasse o tempo para que novamente fossem o centro das atenções dos olhares aflitos..daqueles que nada fazem sem confirmar a pontualidade ou o atraso dos seus actos. Procurei a medo o relógio de bolso, que há muito já era de gaveta, deixado plo meu avô aos netos dos netos que haveria de ter..e com tal devoção estava guardado, sempre limpo e a trabalhar não fosse chegar a hora de os netos dos seus netos o quererem ver..como objecto do tempo que nem sabiam ter. Bem..tinha razão para ser a medo a minha procura, ao abrir a gaveta, retirei o lençol bordado à mão ainda cheirando a novo, cheirava a novo devido a nunca ter sido usado..mas a lembrar o tempo em que as mãos sabiam deixar a beleza dos sonhos das virgens no tecido que se desejava depois ser suado por noites e noites de paixão..mas dizia eu (desculpem, perco-me sempre plos sonhos)..que bem debaixo do lençol de linho, o relógio parara o tempo na mesma posição que o relógio de parede. Parecia que na mesma hora os dois se tinham combinado a deixar de ser… Nem sei o que me levou a sair de casa a correr..mas segurei a saia e desatei a correr estrada fora até à casa da Ti miséria. Bati de tal maneira que ela abriu logo a seguir..adivinhado que coisa má acontecera…contei-lhe do sucedido e perguntei-lhe se ela sabia o dia, o ano, o mês, as hora ou os minutos, e enquanto esperava resposta acho que contive a respiração..não fosse com isso gastar o pouco tempo que ainda houvesse por ali. Ela olhou-me com aqueles seus olhos de sempre e sorrindo disse: Oh comadri Mari zei atão vocei nam sabe que eu nem tenho tempo? Nunca o marquei porque achei nem precisar, depois ouvi dizer que eu tinha o tempo contado, mas como dizem sempre tanta coisa que não é… nem acreditei..como vê, ainda aqui ando plo mundo e nem sei para quando o meu fim. Agradeci-lhe meio envergonhada por me sentir assim..nesta aflição por não saber o tempo que passa… Não me fiquei por ali e segui até ao monti do compadri Jaquim. Ele deveria saber o que se passava! Encontrei-o a ordenhar as vacas e assim que me viu levantou-se tirando o chapéu cumprimentando-me como sempre o fazia. Bons olhos a vejam comadri. Eu, sem perder tempo (ui que parvoíce a minha, como podia perder algo que nem sabia se ainda tinha)..contei-lhe a minha aflição, de o tempo não passar como antes, de as horas não andarem nos relógios como até então. E fiquei de olhos bem abertos a tentar com isso ouvir melhor (outra das minhas maluqueiras) o que ele me teria pra dizer. Ai comadri comadri..olhe, eu sigo-me plo sol..e nunca gado meu se queixou de atraso na refeição. Disse ele enquanto ria com um certo ar de brincadeira. Despedi-me dele sem dizer mais nada, coisa que não gostava era que se rissem das minhas preocupações. E sai dali com pouca vontade de procurar mais alguém para contar o que me acontecera ao tempo. Não tá certo, não tem jetos, nam podi seri!! Dizia eu teimosamente com os meus botões da camisa branca e de folhos na gola (ainda do tempo em que eu tinha vista para costurar..mas pronto..lá tou eu a falari do tempo outra vez) Tinha mesmo que resolver aquele mistério sozinha!! Passei plo galinheiro com a ideia de por o galo a cantar, mas depois pensei que alem de ser uma ideia meio parva, pois o magano desde que houve o tal dia da revolução dos cravos canta como e quando quer, seria também uma tarefa difícil de conseguir visto que com as modernices no me monti, já não dá para distinguir os galos das galinhas e lembrei-me depois que sem os olicus de ver ao perto teria que ser plo tacto..e..bem, não me apetece falar disso!! Já meio desesperada, quase a ter um ataque dos meus, tive uma ideia fantástica, mesmo boa..assim daquelas ideias que..bem, só eu mesmo!! Corri a buscar 2 garrafas de vinho vazias, um funil, cola tudo e um punhado de areia.Com muito jeitinho coloquei a areia numa das garrafas usando o funil, depois com mais jeitinho ainda (sim..sou capaz de milagres) juntei as garrafas pelos gargalos, bem coladinhos e já sentada no chão preparei-me para ver se resultavam… Contive a respiração mais uma vez, esbugalhei os olhos, nem pestanejava e com o coração a bater como louco (mais do que já era) virei as garrafas e ..e.. grão a grão a areia caia lentamente da garrafa cheia de areia para a garrafa vazia. Só se ouvia o tic tac do meu coração..a marcar a queda do tempo… Turvaram-se me as vistas…sempre que me emocionava deixava de ver nitidamente a vida. Mas estava feliz, sim, o tempo existia e era assim, como sempre..lento e soava como o coração. Agora só tinha de descobrir quanta areia cai numa hora !

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009





Hoje alevanti-me com muitas fezis,que é como quem diz (aqui no me alegrete) muitas preocupações e a cabeça feita num oito de tanto pensar. Ora beim, alevanti-me, lavi-me, vesti-me, calci-me, nam me pinti porque só os faço em dias de festa (e só besunto os beços, gosto da beleza ao naturali) comi e bubi o cafei da manhãe e fui logo tratar da bicheza antes que fosse mais tarde e começasse tudo num reboliço. Sem tempo a perder, dei o milho aos porcos , às galinhas o fardo de palha e ainda tentei ordenhar uma ou duas mas ospois desisti, as maganas estavam meios secas e eu tinha mais que fazeri, às vacas vi se tinham ovo (nam tive sorte) e deixi-lhes alpista, nam me preocupi com as ovelhas pois sabia que as tinha regado ontem quase à noitinha, segui plo canteiro dos manjericos e vi que estavam quase no tempo de os ceifari, talvez pa semana, as couves andavam num vai e vem, pra não variar, mas nem as tenti colocar no lugar, um passeio matinal faz bem a qualquer um. Ouvi atrás do chaparro um tal som que me fez lembrari do Feijão Frade..e plo piar, desta vez estava com o raio da gata (já não lhe punha a vista em cima desde ontem pla hora do almoço)mas tbm nem ligui, ospois trataria de ter uma conversinha com ele. . .daquelas que já devia ter tido, quando um belo dia ele me perguntou como raio fazia para colocar uma camisa e depois não me deixou veri se lhe ficava bem..mas enfim, só desconfiei quando me começaram a aparecer à porta as cestas com feijões pretos e outras com feijões canários. Bem, tinha o Alegrete tratado podia ir tratar do resto, hoje era dia de ir lavari à rebêra e nam me podia atrasari, o sol quando aperta nam me deixa com genica para os esfreganço, tinha que chegar antes que ele ficasse a pique. Coloqui a trouxa da roupa no alto da cabeça, uma mão em cada anca e lá fui eu ladeira abaixo toda lampreira. Quando chegui, pranti a trouxa no chão, olhi em redor e lá estava a minha pedra de lavari no mesmo sitio aondi a deixi na ultima vez (é bom ver que algumas coisas não mudam), ajoelhi-me e comici pla roupa branca, sim, tudo tem um preceito de se fazeri, e eu cá a lavar sigo sempre a mesma ordem. lençois, toalhas, saias, camisas, corpetes, ceroulas, cuecas e outra roupita intima e só no fim os mês lencinhos de assoar todos bordados à mão. Depois de bem ensaboados, coloco a roupita a arear assim tudo plas moitas de estevas para lhes dar o soli , só ospois passo novamente pla agua da rebêra e troço tudo muito bem. Tenho dias, quando o tempo ajuda, que enquanto as deixo a arear e ospois a secari, vou dar uma voltita plas margens, apanho caracóis, espargos, agriões ou então deito-me um pouco debaixo de um chaparro a ouvir a agua a correr e os passarinhos a cantari..é mesmo linda a vida do campo! Hoje, estava eu no belo do meu passeio enquanto a roupita secava, aressolvi assentar-me num pedregulho junto à agua e entretinha-me a jogar as pedrinhas pró charco (manias). Estando eu nesta bela entretenham comeci a sentir uma coisinha estranha, assim a modos que quando nos sentimos observados, mesmo muito, mas não sabemos porquê nem por quem. Olhi em redor, uma e outra vez mas nada vi…mas de repente, mesmo ali ao meu lado ouvi Chuac..ou croaac..ou lá como foi! Assuti-mi, alevanti-mi ainda com uma pedra na mão e fixei (com os tais zolhos nos zolhos) a criatura que olhava pra mim. Ai vocezis nem imaginam, era grande, verde, de olhos esbugalhados, viscoso e olhava-me com um ar de apaixonado que só visto. Croac..croac..continuava a criatura. Hummmmmmmm (pinsi eu) querem lá ver que este é um dos tais? Sim, um daqueles sapos encantados que só com um beijo volta a ser príncipes, lindos, louros, espadaúdos, ricos, e muito, muito apaixonados pela criatura que os desencantou?! Oh meu Deus me Deus! Oh meu rico São Tomás, o querido São Cristóvão, oh meus santinhos todos do céu (já aprendi que quando estou aflita, mas muito aflita mesmo, não faz mal nenhuma chamar plos santinhos todos, assim como assim temos sempre que ser nós a resolver o problema e fica sempre bem mostrar uma certa dependência das divindades). Resolvi ter calma e enfrentar a situação, respiri fundo e senti-me, olhi po bicho mais uma vez e…até que lhe comeci a achar uma certa gracinha ..não devemos julgar os outros plas aparências nei? e se fosse mesmo verdade? Olhi em redor mas nem vivalma (é sempre assim!! Almas so as do outro mundo em certas ocasiões!!) tomi coragem e agarri os bicho com as duas mãos. Ele nem tentou fugir e olhava-me com uns olhos de carneiro mal morto, mais uma vez me lembri do Feijão Frade..devia ser lindo se ele apanhasse este bichinho a jeito!! Até me senti corar com este pensamento e tentei fixar as ideias na criatura que me olhava cada vez mais carneiro e mais morto. Fechi os olhos, sei que estava franzida porque o me lenço da cabeça me caiu pás vistas (era melhor assim, nem via mesmo se abrisse os olhos), cheguei as mãos ao beços e quando estava quase quase nam é que o magano me bejou a mim?! Fiqui antónia, zonza, com tonturias como da outra vez mas nam caí, logo logo nem quis acreditar, mas era verdade! O sapo beijo-me!!! Blhackkkkkkk Que bicho mais parvo, então ele não sabia que tinha que ser eu a dar o beijo? Que assim ele não se transformava no príncipe belo, louro, rico, espadaúdo, valente e sei lá mais o que ?!!! Croaac croaac dizia ele e parecendo não se importar com a minha aflição saltou-me das mãos e foi apanhar moscas. Ora querem lá ver que vou ter que andar atrás do bicho?! Ainda o chami com meiguice, fiz boquinha e olhinhos de sapa apaixonada mas nada, o bicho tinha desistido de ser príncipe. Nam terá gostado do bejo? Terei apertado o bicharoco demais? Foi ai que me alembri que a roupa já devia estar seca. Fiz a trouxa e com o mesmo jeitinho de desci a ladeira voltei a subiri, trouxa na cabeça, mãos nas ancas e lá vai ela toda lampreira até chegar de novo ao me Alegrete. O sol já se punha mais uma vez, é um gajo de hábitos, sempre no mesmo local e à mesma hora (mais coisa menos coisa)..ainda é das poucas coisas certas no me Alegrete (não sei até quando). Parecia tudo normal ali, aceni a Ti Miséria que descascava favas junto ao canteiro dos alhos-porros, as couves andavam correndo como vacas loucas, os malmequeres choravam sempre que olhavam para os amores perfeitos, os nabos ficavam simplesmente ali..a ser nabos e eu sorri ao ver que no me Alegrete a vida continuava igual. Fez-se noite e cansada não resisti ao sono, ao aconchegar no travesseiro senti uma picadela na cabeça que fez dar um salto da cama. Ufff Tirei a coroa e adormeci como uma princesa de contos de fadas.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ESTÓRIAS Do Mê ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo V




Era um daqueles dias em que o calori me atordoava, nem o vento mexia nem nós respirávamos, embora todos se sentissem vivos no me Alegrete. Era mesmo um daqueles dias que foram feitos para nada fazer. O fim da tarde chegava de mansinho e eu cansada, assenti-me na soleira da porta olhando o horizonte, que todos os dias era o mesmo mas eu conseguia ver sempre diferente. Bem, senti-me e fiquei ali a nada fazer..e nem imaginam as coisas que se fazem assim. Ao longe o ti Chico conduzia o carro das mulas para o monti..aceni-lhe ..assim com um levantar de braço único, daqueles em que parecemos querer tocar no céu, e de lenço na mão em vez de estar na cabeça (por mondi me abanar com ele) fiquei ali sem contar o tempo a dar a dar com o braço e sem nada dizer, o ti Chico era bom homi, calmo e sempre de poucas palavras (acho que só aprendera as certas e sabendo-lhe o valor não as usava em vão), olho-me lá de longe e de chapéu na mão repetiu o mesmo gesto que eu fazia com me lenço…naquele momento entendi todas as palavras que ele não disse e sei que também ele sorria…queria-me bem e eu bem lhe queria. Passado algum tempo, nem sei se muito se pouco (no me Alegrete ninguém sabia ver as horas, só os minutos eram contados..mas longos, muito longos os minutos aqui) senti que alguém se aproximava, só depois vi ser o Ti Chico que já a pei resolvera vir nada fazer comigo. Bôtardi, disse ele. Bôtardi ti Chico, respondi. Ele sentou-se junto a mim e encostando a enxada à parede olho-me mais uma vez, fica bem com o cabelo ao vento melher, disse ele daquela forma que só ele sabia dizer coisas sem jeito..pois se algo não havia naquela tarde era vento..acho que me assubiram os sangues à cara..mas disfarci a coisa e nem respondi… Suspiramos os dois enquanto fixamos o olhar naquele horizonte onde todos os dias se punha o sol..pla primeira vez nessa tarde, em que nem o vento mexia nem os seres respiravam, se viram mexer os ramos das árvores e tenho a certeza que vi duas moscas perderem o controle do voo ..quase quase a certezinha!! Naquela tarde o sol levou toda uma vida a se pôr…só quando a noite caiu de repente é que eu e o Ti Chico nos demos conta que já eram horas diferentes, já cantavam os grilos, o gato procurava o tapete para se enroscar, as minhas mãos perderam a suavidade de outrora, não sei como mas o lenço cobria.me novamente a cabeça, ele parecia mais baixo e tinha chapéu no lugar dos cabelos pretos, sim já eram horas diferentes. Levantou-se e segurando-me a mão disse até amanhã, sorri e contive as palavras que não sabia certas. Amanhã talvez volte a ser dia em que o vento não sopre, em que não se respire no meu alegrete, e ai voltarei a ter cabelos soltos ao vento mesmo quando vento não há e passarei toda a tarde a nada fazer…

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo IV




No dia da revolução eu cá nam saí à rua. Fiqui-me deitada esperando que alarido passasse ouvindo na rádio aquelas canções que agitam as massas . . .dizem que foram discos pedidos mas cá eu nam sei, não ouvi a frase. Lá fora, os cravos faziam das suas..tal como eu tinha pensado..andavam de mão em mão, de boca em boca, doidinhos de um todo… Ca pra mim esta coisa da liberdade é bonita mas tambeim não precisam fazer tanto alarido. As únicas que ainda mantinham alguma compostura eram as couves de Bruxelas, ficaram-se ali a olhar com um sorriso meio parvo como se nada fosse com elas. Os tomates (mesmo os pequeninos e verdes) estavam completamente fora… do seu canteiro, as cebolas choravam, como madalenas arrependidas, gritando vivas aos cravos que se passeavam nos carrinhos de mão todos vaidosos. O feijão frade aproveitou toda aquela movimentação e saiu também aos gritos “amor livre..amor livre”. As galinhas, já sem penas, corriam ribanceira abaixo e a cantar de galo. O galo ficou sem piu e fugiu prá quinta do me compadri Jaquim (dizem que ainda o apanharam a tentar disfarçar a coisa, com sotaque brasileiro e tudo). Bem, o me alegrete estava numa agitação nunca vista e eu só receava ter o burro nas couves…mas já que estava deitada drumi-mi. Nem sei bem quanto tempo passou, quando acordi sai meio zomza da cama , calci as botas do trabalho, pranti o aventali bordado à mão e o me lindo chapéu de palha ,com malmequeres amarelos, na cabeça por mondi o soli. Abri a porta ainda devagari por mondi nam acordar ninguém, agarri no cesto e na enxada e raspi-me alegrete fora. Olhi, olhi e volti a olhar…logo logo, tirando nam ter ouvido o galo cantari, nam achi nada de estranho..passando plo canteiro dos pés de salsa é que tudo me veio á mimória. Em vez da salsa estavam lá uns coentros armados em pezinhos novos, falavam muito em povo e barafustavam com as mãos no ari. Hum (pinsi eu), querem lá ver que agora para fazeri a açorda vou ter que me por a cheirari os pezis primeiro?? (é que eu nam me enganava nos temperos por mondi eles estarem sempre no lugar certo..) No galinheiro já quem cantava de galo eram as galinhas sem penas, os porcos já nam eram os mesmos (pareciam mais brancos mas plo cheiro nam me enganavam, eram porcos!!!) Estava quase a ficar convencida que o me alegrete tinha mudado pa melhor quando me lembri de mim. Sim, qual o me lugar agora no meio de tanta confusão?? Comeci a ficar nervosa..com tonturias, almareios, gomitos, sem forças nas canetas, já nem conseguia falari e foi quando me alembri que sabia falar com gestos (os tais que valiam à volta de mil palavras)..já quase a cair ainda tive tempo de alevantar a mão pa pedir ajuda, sem saber bem o que dizia, alevanti o dedo indicador e o outro (o tal que quando sozinho parece tal e qualmente um palavrão)..e qual nam foi o meu espanto que do de todo o lado me respondiam com o mesmo gesto. Ele era o Molho de brócolos, as alfaces, as cinouras, as couves, os coentros, a salsa, os rabanetes, os pupinos, a fruta (estava pior que uma salada toda misturada), os animais..enfim, tudo o que mexia no me alegrete estava de braço no ari e a repetir o meu gesto enquanto gritavam “Vitória, Vitória” Então querem lá ver que eu estava quase a morrer de aflição sem saber o que seria feito de mim e eles ainda cantavam vitória?? Ospoi ao longe cantou o galo… Eram horas !! alevanti-mi ainda a tremeri, não sei se dos nervos se de raiva mas… SONHOS assim só no me Alegrete!!

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE..e outras coisinhas do campo III





ERA UMA VEZ UM MOLHO DE BRÓCOLOS Era uma vez um molho de brócolos metido a intelectual. Tudo aconteceu quando me encontrava entretida a apanhari caracóis no me lindo alegrete. O dia, cinzento e chuvoso exigia-me maior perícia para tal actividade, abria os zolhos de uma maneira esbugalhada e colocava-me em posição de atleta no inicio de corrida (sim, mesmo de cu pró ari), esperando cuidadosamente que os caracóis não demorassem muito a sair da casca. Sim, eu gosto de os apanhari com os corninhos de fora, olha-los zolhos nos zolhos para depois, dar uma gargalhadinha vitoriosa quando os coloco no saco. Trazia as minhas botas do campo (lindaaaaas lindaaaaaaas) e patinava mais do que caminhava plo meio do lamaçal que se formara na horta. As couves (mesmo a doida que nem uma vaca) dedicavam-se à prática desportiva (natação 100m costas sem grande estilo) enquanto os tomates e as cenouras faziam claque numa barulheira infernal. Logo logo, ainda pensi que não tinha escolhido um bom dia para a apanha dos caracóis, ospois pensi melhor e decidi que talvez com a chuva eles nam me fugissem tanto e eu conseguisse bater o recordi do me compadri Jaquim (so duma vez apanhou 4). Estando eu naquela linda posição de atleta pronto para se lançar em corrida (fica feio dizer que estava de cu pró ari) quando mesmo ali ao me lado ouvi um Pssssst pstttttttt. Olhi po céu,na esperança de ser o Senhori a tentar dizer-me alguma coisinha, visto já lhe ter feito uma quantidade de perguntas e até à data respostas não tinha, mas apanhi com um pingo de chuva mesmo na ponta da batata (que é como quem diz no me lindo nariz).Achi que nam devia ser daqui que me chamavam e olhi em volta. Vocês nem vão acreditar no que eu vi, mas eu conto na mesma, estava um lindo, verde, e viçoso molho de brócolos no alto do marmeleiro a acenar-me com um jeito meio estranho. Pssst pssssssssssssst (dizia ele novamente). Hum? Arrespondi eu com ar de quem duvidava estar a ver e a ouvir coisa que fizesse sentindo. Antes que eu dissesse mais alguma coisinha o molho de brócolos desceu do marmeleiro E entregando-me um papel onde se lia: Aviso: Avisam-se todos os habitantes do alegrete, vegetais, animais, humanos e afins (??, que amanhã, dia Internacional dos molhos de brócolos, iremos realizar uma manifestação contra a Desordem que se vive actualmente aqui. Concentração junto ao canteiro da hortelã, logo que o galo cante. Se faltares não te queixes depois. Assinado: Molho de Brócolos (Engenheiro de Minas e armadilhas , Dr. Em Politica de Massa com grão de bico e Mestre em culinária vegetariana ) Devem estar a ver como fiqui néi?? Verde e sem forças, as pernas bambas como o espargueti que comi ao almoço, comeci a ver tudo andar á roda e so tive tempo de me assentari antes de desfalecer todinha. Ainda disse aiiiiiiiiiiiiiii, mas ospois cai estateladinha no chão, olhi em redor e griti socorroooooooooo.. mas nada, a Maria do Socorro devia ter ido à vila, era dia de consulta e ela andava mal das dores, atão aresolvi socorrer-me sozinha. Arranjei forças e já dempei resolvi agir antes que se fizesse a revolução dos brócolos no me alegrete. Eu já tinha ouvido falar nestas ideias revolucionárias e sabia bem que o molho so tinha força por isso mesmo..e também porque o magano anda a ler coisinhas estranhas nas folhas dos jornais vindos lá de fora.. Antes que chegasse o dia e a hora marcada eu iria tratar de arranjar solução.. Depois de uma boa sesta (tinha apanhado 5 caracóis só num dia) sentia-me como nova (bem, quase como nova..), e foi ai que tive uma ideia brilhante para acabar com a loucura da revolução do molho de brócolos. Pegui no telemoveli e escrevi uma SMSMS (ou seria uma MMSSMM, ou um MSMSMS?? enfim, nam importa!) amandi aquilo pos numaros todos da minha agenda (de A a Z sem faltari o k, o Y e o W que no me alegrete, com esta coisas das importações, até já tenho Kiwis e Kouves armadas em modernas).. Comecei a ver que a coisa estava a dar resultado, quando no canteiro dos amores-perfeitos se começou a ouvir zunzuns de infidelidade e o me compadri Jaquim se queixou de não conseguir juntar o rebanho de ovelhas. No dia marcado, junto ao canteiro da hortelã e depois do porco cantar (sim, eu ainda não vos disse mas o raio do feijão frade continua caído de amores..) ninguém apareceu. Ai ai, o que umas simples letrinhas e um pouco de imaginação podem fazer!! Imaginem se eu soubesse mesmo escrever com jeito.. Mas não vou ficar descansada pois estou cá desconfiada que o raio dos cravos andam a tramar alguma, no outro dia ouvi um a comentari que UM DIA OS ENCARNADOS GANHAM ISTO!!! (o me compadri jaquim pensa que estavam a falar de futeboli mas eu cá ..plo sim plo não vou ficar de olho neles). O pior desse dia é que que com a confusão me esqueci dos caracóis mesmo no canteiro dos pés de salsa.. Ta beim, ospois conto..

ESTÓRIAS DO Mê ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo II




ERA UMA VEZ..UM FEIJÃO FRADE Era uma vez um feijão Frade, verde, viçoso, estaladiço, apetitoso, tenrinho e doido, muito doido por sexo. Não me perguntem o como nem o porquê de tal doideira, era e pronto!!! Esta um belo dia de primavera, o sol brilhava num céu azul e os passarinhos cantavam e faziam aquelas mariquices todas que se fazem na primavera e tal.. Sai pela manhã a caminho do me alegrete das couves (com a minha habitual roupita de trabalho, o avental bordado à mão e uma camisa de folhos com as mangas arregaçadas por mondi o calori. Ah, e tinha em vez do me chapéu de palha com malmequeres amarelos, um belo lenço colorido atado no alto da cabeça que me ficava mui beim)e antes de chegar a meio caminho escuti uma algazarra que me fez parari logo ali. Pari, olhi, escuti novamente e nam se ouvia nada, nadinha, nadica. Homi esta!!! Será que já estou a ouvir vozis?? Pinsi eu. Continui a andari e nam é que volti a ouvir o mesmo barulho vindo bem dali de perto?? Hum, aqui há gato!! (pinsi eu novamente) Pari, olhi, escuti e nada de nada. Alguma coisa se estava a passar mesmo ali por baixo dos meus narizes e eu nam descansava enquanto não soubesse o que era. Senti-mi junto ao chaparro meio escondida pela sombra do dito e pus-me à coca. Então nam ei que assim logo de seguida ouvi, vindo do meio de uma moita de estevas o tal zurruru? Parecia-me de aflição pois eram aiiiiiiiiiiis, uiiiiiiiis, uffffffffffs, yessssssssssssssssss. yes??? Sim senhor, não era engano, eram yessssssss mesmo que eu ouvi!! Ai eu tinha que fazer alguma coisa e rápido!! Só nam sabia como haveria de socorrer a criatura uma vez que ela parecia falar estrangeiro, mas pronto, dizem que o gesto vale mais que mil palavras e eu sabia mais do que uns vinte e tal gestos o que queria dizer, fazendo bem as contas, que isso daria mais do que umas vinte e tal mil palavras (isto tudo com a 4ª feita de noti e já depois de velha)..txiiiiiiiii até fiquei meio vaidosa de me saber senhora de tanto palavreado sem ser preciso falari!! Bem, alevanti-me e sai da sombra do chaparro, de braços no ar a gesticular a modos que de aflição e corri direito à moita.. Aiiiiiiiiiiiiii, griti eu. Aiiiiiiiiiiiiiiiii me Deus, griti eu novamente. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiii aiiiiiiiiiiiiiii me Deus me Deus………..gritou o eco. Vocezes nem me vão acreditari mas nam é que atrás da moita estava um Feijão frade, verde, viçoso, estaladiço, apetitoso tenrinho e doido, muito doido a fazer o amori co uma batata doce grelada??? Passi-mi pois tá claro!! Atão o sem vergonha do feijão frade queria-me desgraçar a horta?? Atão nam me chegavam já desgraçadas das minhocas e dos outros bicharocos que me comiam as couves e vinha agora um feijão, ainda por cima frade, a comer-me a batata assim sem mais nem menos?? O gajo ficou sem saberi muito bem o fazer, ainda tentou dizer alguma coisa mas eu nem deixi. Disse logo: cale-se faxavori, seu, seu, seu..nem arranji nome capaz de lhe chamari, foi então que me lembri dos gestos que valiam mais que palavras, alevanti a mão e fiz-lhe aquela coisa feia com o dedo do meio e coloqui a língua de fora ao magano. A batata coitadinha só dizia: Eu juro que nam queria, nam queria, eu até nem gosto de feijão e tal.. Eu confesso que nam acrediti muito na magana, eu bem vi que o yessssss só podia ter vindo dela, era batata importada lá de fora (também há quem se importe cá dentro, juro!) e ninguém me tira do sentido que é ela quem organiza aquelas reives no alegrete. Bem vamos lá resolver isto a bem, disse eu fazendo cara de entendida no assunto, mas juro que nam sabia muito bem o que fazer com uma batata doce e um feijão frade. Eu caso, eu caso, gritou logo o feijão frade. Olhi pa batata como que a perguntar o que é que ela achava disso e a magana começou a rir a bom rir. Fiquei mais antoína que as antoínas…antónita melhor dizendo. Querem lá ver que ta-se a rir dos nervos que apanhou ou ver que era desta que desencalhava?? E a magana nam parava de rir, ria e ria e ria até que se jogou ao chão rebolando e rindo, rindo e rebolando e plof, ficou-se mesmo ali sem mais ai nem ui. O feijão aflito correu pa ela mas eu nam me consegui mexeri do lugari cus nervos que apanhi. Foi ai que o feijão frade, verde, viçoso, estaladiço, apetitoso, tenrinho e doido, muito doido por sexo disse: Que merda, é sempre a mesma coisa!! A couve ficou doida quem nem uma vaca, o porco a cantar de galo e agora esta da-lhe um cheliqui!! Nam tenho sorte nehuma no amori. E dizendo isto abalou-me dali cabisbaixo e de mãos nos bolsos a fazer uns movimentos estranhos nos ditos cujos. Até hoje nam conti a ninguém o que passou naquele dia mas ando cá desconfiada que no me alegrete anda coisinha de outro mundo. A sorte é que ospois quando acordo nam me lembro de nada..magnesia disse o médico. Eu repondi: nam sô tori sou Maria mesmo.. Pronto..foi assim!!

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE...e outras coisinhas do campo I



HOJE O GALO NAM CANTOU.. Hogi o galo nam cantou, por isso acordi sozinha e vi logo que já devia ser tardi. O soli já me entrava pla greta da janela nem me deixando abriri os zolhos com getos. Ainda meio a drumiri e com os chinelos de quarto (com um pompom cor de rosa lindoooooos) a arrastar plo chão, coloqui o robi (verde alfaci e com uns corações roxos bordados mt lindo tambeim por sinal)..dizia eu que saí pa rua para veri o que raio se tinha passado com o me galo. Mas antes de lá chegari vi logo que alguma coisa se tinha passado, no alegrete das couves dormia uma coisa verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e a ressonar que nem uma vaca..nem quis acreditari, levi as mãos à cabeça ao mesmo tempo que ia dizer : oh me deus..mas o o bando de couves de Bruxelas (que estavam roxas nam sei bem porque) gritaram todas em coro: Cala-teeeeeeeeeeee que ela é sonâmbula tadinha. E eu cali-mi! Segui em frente e fui até ao galinheiro. Mau, mau Maria (disse eu ,que por acaso tenho a graça de Maria e sempre achei estranho que quando algo corre mal toda a gente diz o me nome) Olhi novamente e nem coloqui os olicus (tavam tão abertos que dava para ver bem fosse a que distancia fosse), atão querem lá veri que tá tudo parvo???!! Pergunti eu. Mas como já me habitui a perguntar e nam ter resposta…desta vez nem esperi por ela. Mas nam é que o raio das galinhas estava depenadas?? Sim senhori, todas, todinhas sem uma única pena e feitas doidas cacarejavam enquanto se esfregavam plo chão. Hum aqui havia coisa e nam era boa!! Ainda me lembri das vacas loucas mas depois tiri logo isso da ideia, eu sabia que as vacas, mesmo as loucas, nam têm penas e teria sido impossível depenarem-se. Mas isto nam ficou por aqui, olhi po poleiro e nam ei que em vez do galo estava lá um porco? Sim senhori, um porco todo preto a dar as asas e a cantar de galo. Primeiro ainda disse: ai me deus…mas descansem que já nem olhi po céu. Entri devagar nam, fosse este tbm seri sonâmbulo, pé ante pé com os meus lindos chinelos de quarto com um pompom cor de rosa, e mal chegui perto do bicho agarri-o pla asa. O magano ainda deu um ou dois coices ,mas eu nam o largui, seguri-o mt beim e sai dali e levi-o pa pocilga. Quando o coloqui no chão o bicho até parece que mudou de cores estava vermelho que nem um tomate (nam sei se o facto de o ter trazido de cabeça pra baixo teve alguma coisa a veri com isso ). Olhi-o beem nos olhos, chegui-me perto e deu pa veri que estava envergonhado. Nam tive coragem de lhe ralhar mas disse-lhe com voz firme: agora ficas de castigo até aprenderes a cantar a horas certas!! Sai dali a correr e fui ver das galinhas, o galo já lá estava todo pimpão e as maganas com ar comprometido cacarejavam à sua volta. Fechi o galenheiro e volti pa casa pois tinham que me lavari e ir cuidar do alegrete, mas a meio caminho pari pois nam se me tirava da alembradura aquilo que vira no galinheiro. Senti-me junto ao chaparro e pensi, pensi e volti a pensari…..amanhã vou levar as galinhas ao médico (isto sou eu a pensari). Alguma coisa se deve poder fazer pelas coitadas!! E ao longe ouvi o galo…alevanti-me pois já eram horas!!

ERA UMA VEZ UMA COUVE




Era uma vez uma couve.. Verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca! Não me perguntem o porque, até hoje ainda não consegui saber porque raio aquela couve ficou assim. Estava eu numa bela manhã de soli a apanhar couves, com o meu lindo chapéu de palha com malmequeres amarelos, de avental bordado à mão com um grande laçarote na traseira e cas minhas botas do campo que nem as tiro pa drumiri, eis senão quando avisti ao longe…sim, a vista já não é o que era mas trazia nesse dia os olicus de ver ao longe…dizia eu que avisti ao longe algo verde, farfalhudo, viçoso, tenrinho e doido que nem uma vaca a correr a sete pés. Ai a porra que a cabra da vaca soltou-se!! Pinsi eu com os me botões..mas antes que conseguisse passar tal pinsamento pa palavras, dei-me conta que o que ia dizer não fazia sentido, tinha que me decidir, ou era cabra ou era vaca!! E ospois dei também por mim a pinsar que não tinha botões para pensar com eles..mas sim um bonito laçarote nas traseiras do aventali…e enquanto estava já tonta de tentar por ordem em meus pinsamentos senti um grande encontrão e pumba, estatelei-me bem no meio do alegrete das couves (chama-se alegrete porque consta nas redondezas que as maganas fazem aquelas festas duvidosas noite sim noite não, ao som de kizomba e a modos que com muita bubida à mistura). Bem,olhi e mesmo antes de me tentar alevantari, agarri na enxada que tava ali memo a jeto…Fosse quem fosse ia ver com quantas couves se faz um caldo, ai ia ia!!! Mas assim que lhe pus a vista em cima, a minha alminha ficou parva (sem comentários faz favori!!) atão nam é que me tinha esquecido de trazer os olicus de ver ao perto?? Só podia estar a ver mali!! Estava mesmo ali à minha frente uma couve, sim uma couve verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca. Pranti as mãos pró céu e griti: Me deus!! Oh me deus diga-me que nam tou doida!! Mas ele nam disse e cansei-me de ficar à espera. Atão alevanti-me e enfrenti a couve. Olhi-a bem nos olhos, mas a magana nem se mexia..humm entedi logo que se estava a fingir de morta. Dei dois passos (um com cada pei) na direcção da bicha e sempre com a enxada na mão nam fosse ela tentar algum golpe mais violento. A magana continuava sem se mexer, via-se que ainda respirava embora plo barulho que fazia nam fosse um respirar normali, sim que de couves entendo eu! Foi ai que resolvi, com um certo cuidado, agarrar a couve. Lentamente agarri a magana plo pé que estava mais a jeto, os outros seis também nam estavam muito longe mas cansar-me para quê nei? Quando já a tinha bem segura vi, com estes olhos de ver ao longe e ao perto dependendo dos olicus que trago na altura, que a couve estava a dormiri. Ainda olhi po céu novamente e ia a dizer “ai me deus..”ma resolvi nem perder tempo pois rarmente obtinha resposta credível lá das alturas..e com muito cuidado, fiz uma cova no alegrete, bem junto as outras couves que estavam roxas do susto, elas até eram de Bruxelas mas nem no estrangeiro se tinha visto coisa igual. Depois de colocar a couve verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca na terra, retirei-me tentando não fazer barulho. Olhi pás outras couves e disse: Shiuuuuuuuuu não a acordem, afinal era sonâmbula tadinha! Hoje cada vez que avisto ao longe uma coisa verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca, a correr a sete pés..sorriu e ajeito o raio da almofada. E só por volta das sete da manhã me alevanto para ir tratar das couves.