Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Estórias do mê Alegrete..Não lhe olhem pró tamanho

Tenho andado com tantas fezis que nem vontadi tenho tido de vos incomodari cas histórias do mê Alegrete.
Acho que atei é um crime chamar-lhe Alegrete nestes últimos tempos…se bem que palhaçada tem havido muita e a barraca dos artista do circo estar montada aqui há alguns anos..
Beim, como ia dizendo..já há alguns dias que a Ti Miséria nam pára de chorari, vai-se sumindo a olhos vistos. Chora e ri, ri e chora, desfalece todinha e no fim de dois suspiros seguidos, daqueles de quem se vai finari, cai estatelada no chão esteja onde estiveri..no outro dia ficou-se nos braços do Ti chico, que como sofre dos ossos e dos bicos de papagaio, nam aguenta muito tempo ca miséria nos braços e desata a gritar por socorro.- Tirem-me esta miséria de cima, grita ele só se calando quando eu lhe consigo tirar a dita e a coloco deitadinha no chão.
Naquelas alturas nam sei beim qual dos dois acudiri primeiro, giralmente ei ao Ti Chico só pra que o homi se cali mais depressa…a Ti Miséria este mês já se teve aquela travadinha vai prai quatro vezis…só lhe passando quando lhe desaperto a roupa e lhe dou a cheirari e a buberi, uma mesinha feita com alho porro, um cravo de cabecinha (vermelha), duas folhas de trevo de quatro folhas (ou serão quatro de um de duas? Bahhhh numaros!), um fiozinho de canja de galinha, sali e duas colheres de óleo pra coisa deslizari melhori.
Depois de buberi isto a Miséria fica quase como nova e começa a pedir desculpa por tudo e por nada, ele ei ao Ti chico por lhe ter dado aquele peso, a mim por lhe ter que andar sempre a ajudari, ao mundo em girali por existir e passado pouco tempo já ta a chorar e a rir novamente…até à proxima sulipampa…
O médico que passa por aqui duas vezes por mês, já nos disse que suspeita que seja dos nervos e diz que aparenta ser crónico, diz que ela devia distrair e nam pensari tanto na vida…como se isso fosse coisa pra nam se pensari!!
Mas pronto, hoje nam a vi ainda e resolvi tratar da bicheza e do hortejo primeiro e só despois ir ver como ela andava.
Mal chegui ao currali dei de caras cas vacas de tetas cheias e nam paravam de fazeri mummmmmm mummmm mummmmm…aflita comecei a ordenhar as maganas e só depois vi que a Ti Miséria estava ali a olhar pra genti com um leve sorriso na cara.
Nam tive tempo de grande converseta pois tive que ordenhar as 10 vacas três vezes cada uma e correr de um lado pro outro a meter o Leti em tudo que era baldi, taça, copo, tacho, banheira, alguidari…uffff
Já era quase meio dia e nem tinha ido veri as couves, fiqui preocupada com o aumento de produção, mas assim como assim fui ao resto da lide e ospois logo via, nem que fizesse queijos ou bolo de requeijão…nam se haveria de estragari nam senhori.
Ia a caminho da horta quando dei de caras cu ti Chico encostado ao chaparro de sempre, olhava as ovelhas e as cabras de longe e volta e meia assobiava ao Tejo pra que ele nam se distraísse e fosse ajuntando as maganas. Ele fazia contas com uma daquelas manicas que se compram nos chineses, até nam sei como aquilo funciona pois nam acredito, a ver pla diferença das letras, que os numaros deles batam certos cas nossas contas. Mas adienti…senti-me um pouco junto deli e tentei saberi o porquei de tanta conta fêta naquilo. Ele, com aquele ari de sabido que me deixa sempre irritada, arrespondeu-me que estava a fazer contas ao Iva que iamos ganhari ca venda do leti, pois a miséria já lhe tinha contado o sucedido. Nam entendi nadica daquilo, mas a ideia nam me cheirava muito beim. Mas como sempre que começo a desconversar com ele perco ano e dia, arresolvi deixar a conversa assim e segui em frenti.
A meio caminho vi ao longe umas orelhas arrebitadas, a modos que me pareciam dum coelho, baxi-mi e deixei-me ficar em silencio e caladinha por mondi nam o afugentari ..e nam ei que era memo um coelhoo?? Era pois! E ali estava em grande rebaldaria roendo uma cinoira bem alaranjada enquanto à sua volta se juntavam uns quantos grilos, uns Com e outros Sem casaca virada.
O magano parecia estar a preparari alguma, senti-mi novamenti mas nam foi preciso ficar-me muito tempo sentada, afinali nam estava! Roia a cinoira e os outros cantavam de grilo em volta deli, roia mais uma cadinho e vá de canti..cantavam e ele roia…puff cansi-mi!
Segui em frente novamenti e chegui-me perto do canteiro dos pézinhos de salsa, ali nam se passava nada de novo. Como sempre havia um pei maior cus outros e que baloiçava com um ari arroganti. Consta em todo o alegrete que desde sempre que anda com a mania das grandezas, já em novo dizia quereri estudar, nem que fosse ao fim de semana, pra seri dotori ou engenheiro e que o fituro era deli.
No momento em que me ia aproximari soprou uma ventania ali dos lados do Rosali de La fronteira que tive que me agachari pra nam cairi.
Agachada estava cu nariz quase junto ao chão que dei com um carreiro de formigas, no seu vai e vem diário, carregando migalhinas nas patas.
Eram muitas e cheias de genica, nam paravam de andari de um lado pro outro, juntando o pouco que conseguiam num buraco ali nam muito logi.
Fiqui a pensari na vida destas formigas e na força que se consegui teri mesmo sendo pequeninas.
Sou assim, quei que querem? Nam consegui evitari de ficar ca emoção nos zolhos.
Ao longe o Tejo ladrava, já seriam horas de guardar o rebanho. Por esta altura o Ti Chico já teria terminado as contas do lêti e a Ti Miséria, se nam tivesse tido outra sulipampa entretanto, já estava a chegari a casa tambeim.
Ergui-mi num de repenti..assim cheia de vontades de fazer alguma coisa de jêto antes que a noti caísse e já fosse tardi …corri com quanta força tinha direito ao chaparro do Ti chico, mal chegui tive que me encostari ao tronco e descansari um pouco até que me recompus e consegui falari..
Nem repari na cara de amuo que ele tinha e disse:
Ti chico, já sei qual ei o nosso mali!
Quei? Disse-me ele sem levantari os zolhos do chão.
Sei sim senhori!, disse eu convicta de que ele iria ficar encantado com a minha descoberta.
Atão vocei já deve ter visto as formigas a trabalhari nei?
Quem nam viu comadri? Arrespondeu-me com o mesmo ari de desinteresse.
Pois…
Atão compadri imagine que eramos todos formigas.
Hum? Ca porra comadri pra que raio vocei queri que a genti seja formiga?
Carni têm pouca, mal se vêem, nem dam leti nem nada! Disse ele meio confuso.
Compadri, arrespondi-lhe com o meu ari de heroína que sabia teri cada vez que me alembrava duma coisa que ninguem se tinha alembrado antes..
Compadri, arrepeti, a gente, mas a genti todos, mas todos todos, assim todos em girali entendi?
Sim comadri, todos é todos ora! (disse ele dando mais atenção à manica que deixara de funcionari do que a mim)
Pronto compradi estão a ideia era essa mesmo..se fossemos todos trabalhari comos as formigas e a modos que so conseguissemos levari uma migalhina em cada pata o Alegrete nam teria chegado a isto!
Hum comadri?
Quer-se dizeri, continui, a modos que nam tínhamos uns com mais migalhas que outros entende?
Pois, talvez comadri, talvez…disse!
Irritada com aquele desinteresse…corri caminho do monti e antes que fosse noti usei todo o leti da ordenha da manhã pra fazer um requeijão…e ospois com este fiz bolos de todos os tamanhos e feitios.
Deti-mi sorrindo sem conseguir imaginari as cara do Ti Chico e da Ti Miséria quando dessem com aquilo pla manhã..
Mal drumi..atei acho que eram formigas que via a passar no tecto a noti inteira..
Assim que o sol nasceu e o galo fingiu que cantou (sim, desde algum tempo que já nem o galo canta como antes..)
Alevanti-mi, pegui nos bolos e foi pro campo espalhando as migalhas por todos os cantos e recantos..junto ao chaparro, ao galinheiro, na horta e no pomari…
Uff estava tão contenti a distribuir o resultado da produção por todo o Alegrete que nem arrepari que pisi um pé de salsa..ao longe vi o Ti Chico, era dia de caça e lá ia ia em busca de coelhos.
Caso tivesse sorti esta noti fariamos um belo jantari e convidaria a Ti Miséria..
Coelho à Alegrete, e nem o pezinho de salsa faltava!
Nem sabia ainda qual a reacção do Ti chico quando visse o que eu tinha fêto com tanto leti..assim como assim a manica nam funcionava e aquela coisa do iva não me pareceu seri coisa que se comessi…
Senti-mi..enquanto via as formigas mais atarefadas que nunca…
Soprou um vendo vindo dos lados do estrangeiro novamenti…parecia já nem ser tão forte ou então era eu que já não me deixava abalar por ele..sentia-me forte como as formigas no carreiro.
Há coisinhas que têm muita força mesmo sendo pequeninas…
E foi ai que me alembri do Papa Formigas…







terça-feira, 13 de julho de 2010

Estórias do mê Alegrete...em tempo de crise (poupa-se tudo)


Botardi Disse o ti Chico achegando.se a mim.

Botardi.
Arrespondi eu desconfiada daquele acheganço.

Esperi que ele dissesse ao que vinha e continui a cortar os coentros pra açorda. Esperi, corti.. corti, esperi… volti a cortar e a esperari… mas ele nada. Nam tugia nem mugia …

Hummmm comeci a ficar com a pulga atrás da zorelha…aposto que ele queria dizer alguma coisa importante, alguma desgraça que acontecera e nam sabia como começari. Resolvi ajudari a que o homi desembuchasse

Tão compadri, disse eu. Que tal de natali?
Ora..beim. disse ele..disse e calou-se novamente.
Hummm Pois, disse eu. E o ano novo compadri? Disse eu novamente pra ver se fazia alguma coisa daquele silencio que já me estava a dar comichões.
Ora..passou. Disse ele…disse e calou-se.
Ai ai ai ai….disse eu em pinsamento mas já a ficar cus nervos.
Acalmi-me e continui. E o nosso tempo compadri?? Tal nam é esta frieza nei?
Tá muito sim comadri. Arrespondeu e calou-se novamente
Eu já nem o estava a veri beim.
Ai nam estava não!! Só me apetecia agarra-lo plos colarinhos e abana-lo tanto até que lhe saíssem todas as palavras que tivesse dentro…
Mas aguenti-mi ainda, hum desta nam me escapa, vai falar nem que seja à força! Compadri e que me diz da crise hum? Ah ah desta ele nam podia só dizer 2 palavras..agora é que eu o ia agarrari!!!
olhi-o com os zolhos muito fixos e pari de cortar os coentros..assim como quem espera alguma coisa acontecer ...
Ora comadri…deixe andar. E dizendo..calou-se!!!
Passi-me!!!!!!!!!!!!!
Deixe andar compadri????????? Deixe andar??????
Atão vocei acha que eu sou melher pa deixara andar uma coisa destas? Acha??
O compadri nam me venha com conversa de deixa andar, por deixar andar é que tamos assim..não sabe??
Eu cá acho que ele até sabia mas só disse:
Pois…
Eu já tinha os zolhos esbugalhados, a cara encarnada, as mãos abertas a gesticular e a quase quase me atirar a ele mas..aguenti-mi.
Respiri fundo e pensi…calma que o homi deve ter alguma fisgada..nam me vou desgraçar assim sem mais nem menos..ai nam vou não!
Pisi os coentros cus alhos, junti a agua pa açorda, corti o pão, ospois o bacalhau e os ovos..isto tudo sem olhar pra ele mas cá com umas vontades!!
Mas nam olhi!!
Depois de tudo pronto disse-lhe: Vá sente-se e coma.
Tirou o chapéu, sentou-se e comeu…calma e vagarosamente sem dizer mais que:
-Bela açorda comadri!!

Eu juro que me aguenti pa nam dizer mais nada, volta e meia roía uma zetona pa me aliviar os nervos..olhava-o plo canto do olho e grunia..
Quando acabou agradeceu, colocou o chapéu na cabeça e disse:

Comadri mari-zezinha nam sei se alguma vez já lhe disse o quanto gosto da comadri.. Olhe, não há no monti quem me entenda tão bem e ninguém faz uma açorda como a comadri.
Dizendo isto saiu porta fora…mãos nos bolsos e palito entre os dentes.

Eu fiqui-me…..simplesmente calada!

só ospois griti:

Ai porra que me esqueci de por azeti na açorda!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

ERVANÇUM...no Alegrete


ERVANÇUM- Festivali colturali e interColtural com Grâo ou Grões ( depende do gosto)





Ao fim da tarde, ainda com os Zolhos franzidos por mondi o soli, lá fui eu a caminho de Santo Amador toda pimpolha.
Se há coisa que faço com gosto, embora cansada e com doris nas cruzes, é ir veri a coltura da genti.
Ora beim, mali chegui levi um susto daquelis…só nam fiqui logo ali estatelada por mondi que já tinha parado o carro das bestas pa passar uma moçoila naquelas riscas brancas, coisas que agora fazem nas ruas por mondi a gente nam se matari uns aos outros.
Bem, dizia que eu me assusti a valeri ao deparari, ali logo à entrada, com a cumadri Miséria agaáchada numa esquina mais um cesto de grões de bico ao lado.
Nam dei parte fraca e segui direitinha ao centro colturali, quei uma lindeza de se veri embora tenha levado uma catréfa de anos pra se acabari (mas já a minha avó dizia que depressa e beim nam faz ningueim..)
Entri e ospois de dar os bêjos ao gentiu todo que lá tava (semos assim, muito dadas a mimos…) senti-mi a ouvir falari a Srª presidenta da junta (melher bem parecida e cheia de saúde) e o senhori presidento da Câmbra. (homi bem falante embora menos cheio cá presidenta, cá pra mim também se há-de fazer um grandi homim sim senhori..) eles lá disseram o porquei da festa, e porque sim e porque não e porque tambeim…e isso tudo…foi bonito e no fim batemos as palmas e fomos ver as bonecas do mundo inteiro e nem que me abrissem a cabeça eu acreditava sem nam visse..eram bonecas daqui, bonecas dali, bonecas dacolá e até de um país que nam era pais quando lá foram…fiqui a pensar que afinal o Mundo é do tamanho de Santo Amador…
Ainda cumovida com tamanha viagem na minha terra, fui andando rua abaixo mais o resto do pissoal pois já eram horas de provar os grões..e lá fomos todos atrás da presideta da genti... Havia grões com carne, grões sem carne, grões com espinafres, grões sem espinafres…enfim a nossa sorte foi que a senhora Presidenta deu ordem de soltura pois tava na hora do Sol Nascer pra genti.
Fomos andando e desmoendo os grões plo caminho e falando aos compadris e comadris que tal como a Ti Miséria, aproveitaram pra se porem ali plas ruas ao fesco da noti e a veri o movimento.
Ainda bubemos uns chazes fêtos plo Toi zei, que tambeim éi da junta da Presidenta, ele entendia das ervas todas e dos chazes todos..nam quis fazer desfêta mas nam bubi por mondi os caloris e porque nam gosto muito de chazes, embora saiba que fazem beim a quase tudo… nam sei se há algum pas cruzes mas também nam pergunti.
Ospois lá fomos atrás da presidenta outra vez (é bonito de veri que quem manda na gente sabe mandari..e isso vê-se pela forma como os seguimos..digo eu.) descemos as escadas do centro de cima e ficamos no centro de baixo mesmo à fresca pra veri o treato. Era duns moços com uns ares de nam serem de cá..mas ospois lá disseram queim eram e dondi eram e afinal… alem do Santo Amadori estes eram profissionais, só nam entendi muito beim porque nam pagam aos Santos moços de igual forma…se o trabalho era igual..mas adiante ca conversa…
Afinal, mesmo de noti o sol nasceu, nam me pareceu que foi pra todos... mas eu vi e senti o calori do dito e a força que tem na vida da genti! Foi uma trabalheira que os moços tiveram, montando e desmontado aquilo tudo umas poucas de vezis…subindo e descendo, cantando, falando, calando…e tudo o que diziam me fazia pensari, sorri algumas vezis e até tive que disfarçar as lágrimas nos zolhos em certos momentos…ospois fomos todos pro largo da igreja (má lindaaaaaaaaaaaa) e estavam uns índios a tocar e a cantari pro povo todo…olhi pra pesidenta e via-se que tava contente e satisfêta. ..nam entendi muito beim foi a conversa dos bolos..mas lá pras quatro da matina deve haveri mais chazes na certa.
E foi assim o dia doji…com sol até à noti, com ervas de cheiro nas mãos da genti..com sons e bonecadas daqui e de todo o mundo…indios na praça e cóbois nas tabernas…com tanto, mas tanto …que só uma terra Grande como Santo Amador consegue ter…aposto que se certas pessoas soubessem disso mandavam abrir uma Escola em cada rua desta Terra. Eu cá nem sei se há Santos mais Amados que este, mas tenho cá as minhas dúvidas se haverá Terra tão Cheia de Vida..de Sabores, Saberes e Sentires como esta…
Tomára já amanhãi pra poder voltar ao Ervançum…ando ando que ainda bebo um cházinho ca Presidenta…mas com bolos!!

domingo, 6 de junho de 2010

Estórias do Mê Alegrete - A Miséria Está Pior


Há muito que não vos conto como vai a vidinha aqui no mê Alegrete.
Sabem como é, muitos afazeris, corrida prá cá, andanças pra lá e quando damos pela genti já não há tempo para agarrar cas mãos..foi-se todo entre os dedos.
Bem mas hoji nam sei como me arranji mas lá consegui fechar a mão ainda com um grãos do dito dentro dela.
Migalhinhas tantas vezes desaproveitadas…
A vida nam tá fácil por aqui nam senhori, dizem que é girali mas eu cá não sei, acho que cada um sente o que está mais perto, o que se vê com a ponta dos dedos e se consegue cheirar faz-nos bater mais o coração, pro bem e pro mal.
A Ti Miséria nam se queixa, habituada a não ter, mas eu sei que está pior.
Quis ir com ela à vila pra que o médico a escutasse, a visse e receitasse uma mesinha qualquer, sei lá, um chá, umas ervas pra fazer defumadouro, qualquer coisa…eu queria era vê-la menos assim…
Mas disseram-nos que médico só daqui a 6 meses, ela baixou os braços resignada e ficou-se no seu silêncio.
Ora ca porra!!
Griti eu
Então as pessoas assim podem morrer. Seis meses?? Seis meses??
E estando eu a gritar com o telefone, e este aos saltos de uma mão prá outra, ouvi lá do outro lado a resposta:
Pode sempre ir à bruxa.
Quei????
Ai passi-mi!
Desligui aquilo e fiqui a remoer no que ouvira do lado de lá.
A miséria acreditava nessa coisa, ainda bem que ela não ouvira aquilo senão lá teria que a levar à bruxa mesmo.
Ainda me lembro, uma vez que me convenceram a ir a uma, fui contrariada e ainda por cima tive que levar a melhor galinha e dois garrafões de azêti. Quando lá chegui fiquei logo desconfiada (tá beim, já antes estava mas..fiqui mais pronto).
Senti-me na sala de espera, já lá estavam duas senhoras com ares de serem de fora. Não traziam galinhas nem garrafões de azêti, nem sei como pagariam a consulta. Senti-mi no meio das duas e fiqui logo a saber que o mal duma era o mau olhado que tinham deitado ao filho, e por isso ele andava embeiçado por uma rapariga de más familias, a outra era pro mondi que o marido andava com poucas vontades…já era a segunda vez que cá vinham e disseram muito bem da Dona Giraldina, uma amiga, não queria nada pra ela…uma santa, diziam.
Nam me meti na converseta e esperei pela minha vez.
Nam sei se vos disse que eu resolvi aceitar, contrariada, ali ir porque já ia pra mais de duas semanas que as galinhas nam punham ovos, as vacas nam davam leti, o feijão frade estavam a mirrar e os pés de salsa cresciam que nem couves.
Bem, adiantando a conversa, só vos posso dizeri que tive azar. A senhora nam dominava assuntos do campo, ainda me mandou cortar os pés de salsa pela raiz, coisinha que lhe tiri logo do sentido, pediu-me pra lhe levar o galo pra ela ver se seria ele o causador das desvontades das galinhas e disse-me que quanto às vacas não havia nada a fazer, que havia ordens do estrangeiro para baixar a produção do lêti e quem sabe as próprias vacas achassem por bem nem se dar ao trabalho…
Sai dali na mesma como fui, quer dizer..quase na mesma…com menos uma galinha e dois garrafões de azêti.
Desde esse dia nam posso ouvir falar em ir à bruxa…entram-me logo caloris.
Mas tinha que fazer alguma coisinha pra que a miséria melhorasse…
Resolvi então escrever todos os sintomas num papeli e estudar o caso.
Ora bem:
- Febres muito baixas.
- Alergia ao marisco, carne, peixe fresco, fruta tropicais, doces e bebidas que nam sejam água.
- Dores de cabeça logo pela manhã e chegam a durar até à noite.
- Insónias quando quer dormir e nam consegue, também diz que tem insónias quando nam tem sono…resumindo..nam dromi!
- Alucinações, vê fantasmas nas notas de 100 aérios (assusta-se sempre mal aviste uma ao longe)
- Más fígados, teima com o carteiro em como ele ainda nam lhe trouxe a carta da reforma, quando a dita é feita por transferência bancária (nam deixa de ter razão…ele nam lhe a trouxe, hummm vou ter que repensar este sintoma).
- Dores de cabeça todos os dias de pagamento da renda de casa, luz, água, gás e conta na mercearia.
- Comichões quando ouve falar o 1º Ministro na TV
- Fica afónica com frequência, principalmente se vai a manifestações.
- Dores constantes pelo corpo todo, cada vez que vai apanhar azeitonas, cogumelos, espargos ou agriões.
- Vicio do trabalho, mesmo quando estava desempregada ou quando o patrão dizia que não havia nada pra fazer…
- Pouco apetite, nunca tem fome quando põe a mesa pros outros…
- Afrontamentos, quando quer gritar e lhe tapam a boca..
- Analfabetismo voluntário, deixou de saber ler os jornais
- Tensão baixa quando sobem os preços
- Tensão alta quando descem os ordenados (sempre do contra a minha comadri)
- Marcas da vacina contra a raiva (deve ser sintoma de algo..)
- Preferência por médicos de família, mesmo quando nem a tem nem ele está de serviço.
- Má circulação, principalmente quando anda de transportes públicos em pé.
- Muitas fezis.
- Anemia crónica..fica branca quando vê ao preço que está o pão.
- Tendência para ansiedade…suspira muito cada vez que vê quanto dias faltam pró fim do mês...e diz constantemente " ai a minha vida..ai a minha vida"
- Dupla personalidade, fala da miséria como se fosse outra…que não ela.
- Menopausa precoce…deve ser da anemia.
- Fraqueza na franqueza com que fala dos seu males..sempre em voz baixa.
- Dores na falta de dentes.
- Constipações frequentes…devia às correntes de ar lá em casa…tem sempre a porta aberta.
- Vertigens, diz nunca conseguir chegar lá acima.
- Tendência para a queda em todos os buracos do caminho…falta de cálcio dizem..
- Coração grande demais…
- sonhadora crónica.

Bem…acho que assim de repente nam me lembro de mais nada, tirando o ela ficar sempre a manter aquele olhar de esperança e força de vontade…mas isso nam deve ser dos sintomas piores.
Agora vou ter que procurar na intreneti ou na ciclopédias que raio de maleita tem a minha comadri..nem que tenha que pagar com a melhor galinha e 2 garrafões de azêti!!


Foto: Eu, a Ti Miséria, a comadri Saudade e a Ti Aurora ainda quando havia saúde e trabalho no campo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pensamentos..coloridos.


Os muros podem impedir o voo dos Homens...os Homens podem derrubar os muros...os Loucos nunca esquecerão!

terça-feira, 16 de março de 2010

Porque raio choram as pedras? perguntam-me vocês...


Porque choram as pedras?

Contam que encontraram em tempos que já lá vão, assim tipo há bues bues de longe no tempo… duas pedras num pranto.
Ninguém sabia como tal tinha acontecido, uns diziam que eram Ets, outros, mais “sensíveis”, achavam que deviam ser desgostos de amori..enfim, armou-se uma confusão até que apareceu um gajo assim muita feio, mas muita feio, muita feio mesmo, guedelhudo e com uns fones nos zovidos, que batia com as pedras umas nas outras , olhava, abanava a cabeça e jogava-as pelo chão com as ditas em prantos. As pedras eram da calçada e o senhori presidente da junta já tinha amandado pori um mandato de captura, com foto e tudo, na criatura que fora vista a tirar as pedras da calçada... já lá ia pra mais de um mês sem que ninguém voltasse a tapar os buracos, provas do crime, disseram os calceteiros da aldeia.
Ospois o gajo muita feio, muita feio, mas muita feio mesmo, apareceu a gritar como louco Eureka..Eureka
..que tinha descoberto o fogo…e pelo caminho a roda e a modos que ia pro guinness. Mas quando pensava que lhe iam fazer uma festa viu que o largo da aldeia estava todo em alvoroço por mondi as pedras que choravam como Madalenas e vai dai ele perguntou:
Porque choram as pedras?
E mal ele disse tal coisa, as pessoas começaram a atirar pedras umas às outras mas só acertavam na Madalena da padaria que coitada mal podia andar devido às dores, foi ai que apareceu o Jesus que era muito bonzinho e disse: nam façam isso à menina coitadinha.
Isso faz doi doi..vá lá nam façam isso..nam tão a ver que a pobre coitada ta feita num bolo??
E foi ai que Deus, que está sempre Omnipresente e em todo o lado ao mesmo tempo, ouviu aquilo e aproveitou-se da ideia do Jesus..criou os queques a que deu o nome de Madalena e ao mesmo tempo disse…ah, já agora aproveito que tou com as mãos na massa e criou o futebol…e foi ai que o mundo virou mundo e apareceram as mulheres as mães dos árbitros.
Estava o Deus todo feliz da vida a dizer à Eva: vá filha, come a maçã que faz os zolhos bonitos …enquanto o Adão tinha ido ver o Dérbi Benfica Sporting na Tv cabo do Adamastor, apareceu uma cobra que era muito venenosa..mas assim mesmo muito venenosa e disse:
Alto ai que quem dá a maçã à gaja sou eu!
Deus parou embora contrariado e foi dali abrir o mar a o meio só por mostrar que quem mandava era ele.
A cobra lá fez a outra comer a maçã e desde ai os meninos começaram a deixar de vir de França e a Cegonha a fazer ninhos nas Igrejas só pra chatear.
Há quem conte que melhor do que isto só o tal do Magalhães que com as manias das navegações andou a descobrir o B à Bá numa lancheira azul e meio amaricada. Foi ai que alem de fazerem a 4ª classe as pessoas descobriram o sexo (nus sites meio estranhos) e nunca mais ninguém conseguiu por mãos nisto. O Deus ainda tentou dizer assim com voz meiga : ah vocezis nam deviam fazer isso assim depois de comer que dá rabinho de congestão…mas ao falar em rabinho só conseguiu colocar o mundo a ir ao dito uns dos outros..o Jesus olhou pra ele e disse:
pero? Por qué no te callas?
E Deus calou-se!
Agora ainda querem saber porque raio choram as pedras?

sexta-feira, 12 de março de 2010

É UM GOSTO..disse ele.


( o PR e a sua Maria pondem os olicus por mondi o soli)

Nam sei se vos conti ou se vos diga..
Até me parece que vocesis nem vão acreditar mas o Presidente da gente todos veio cá ao mê monti.
Pois..já os tou a veri a perguntari:
Então porqueim?
E como?
E ospois que houvi?
E quei quele disse?
E essas coisinhas todas..bem, sentem-se queu vou contari como tudo se passou:
Agenti já sabia que esta coisa de andarmos a plantar paineis solaris ai plo monti era coisa que dava que pensari a todos e plo mundo fora. Ora beim, ospois da plantação, nozis também arranjámos aquela fabriqueta de embalari as celulas que agarram o raio dos raios do soli pra venderi pra outros montis, e mais uma vez voltámos a dari que fazeri a muitos e muitas criaturas que a modos nam queriam acreditari..e porque não…e porque aquilo nam presta, e porque nam devia seri bem assim, e porqueim nozes? Enfim..disseram de tudo como os doidos, a modos que o mê compadri Zei teve que explicar, assim a modos com desenho, a coisa muito bem explicadinha.
Aquilo deu uma trabalheira enorme e levou o sê tempo, ora nam ei dum pé pra mão que se plantam e fazem crescer estas coisas..ainda por cima são grandes e mexem-se como genti atras do soli..
Beim, dizia eu que o me compadri Zei explicou mas parece que falou estrangeiro..os gajos lá de fora entenderam melhori que os gajos cá de dentro..enfim a galinha da vizinha continua a ser sempre maior cá nossa e aqui no monti os compadris e as comadris quando lhe dão um ovo pensam logo que bom bom era se lhe dessem a galinha, nam comem o que têm no prato a olhar pra barriga dos outros..
Voltando ao mê compadri Zei, o homi foi nomeado lá plos Amaricanos pela boa acção feita cá neste fim do mundo…ajuntararm-se todos à volta deli, os crentes, os simpatizantes, os descrentes,os desimpatizantes, os sócios e nam sócios..e aquilo ali naqueles 2 segundos até parecia uma familia feliz…mas foi como a ultima ceia..bebeu-se o vinho e o pão e atei se pintou o habitual quadro..mas ospois cada uns foi prós seus quintais e atéi houve quem dissesse que já mali conseguiam ver por mondi tanto soli…e que afinali aquilo nam dava assim tanto trabalho…e coiso e tal.
Ora antão o tempo lá foi passando, os dias correndo, e o mê compadri Zei sempre na labuta de soli a soli (a bom da verdade ele nam trabalhou sozinho..houve outros compadris e comadris que tambeim deram uma mãozinha, alguns uns peis, sonhos, vontades e crenças. o trabalho foi muito e grandi atei que um dia quando foram ao Rosali, alembraram-se de veri se os Emilios nam quereriam fazer negócio..mas nam vou contar essa parte que ospois lembro-me dos caramelos e fico cus nervos...) Bem,a modos que fez crescer ali pros lados da fabriqueta uma coisinha com muita lógica, dizem que aquilo é do melhor que há no mundo e arredores, dizem atéi (quem viu e entende da materia) que é coisinha com fituro, eu cá nam sei mas que dá gosto veri as pessoas que sabem falari daquilo dá..
E foi por mondi esta nova colheita que o Exmº nosso Presidente da pátria mais a sua Maria vieram veri com os próprios zolhos o que afinal andam a fazeri(agora apetecia-me dizer: em terras de salúquia..mas nam digo)
Viu, reviu, ouviu, perguntou e no fim disse que estava muito contenti, e muito feliz e muito alegri, por ter cá vindo veri a genti, que a Maria dele tambéim estava a modos que contenti e feliz e alegri,e que era um gosto muta grande veri com os proprios zolhos o que aqui se fazia com o soli e principalmente o que os estrangeiros vieram a ajudari a genti pra fazeri com o resto das estrelas..
Agora já se podia dizeri que nam andavamos só com o sol na algibeita mas “quiça” (ai ele falava tam beim!) se continuarmos assim poderemos chegari a teri os bolsos cheios de estrelas pra dari e venderi.
Eu a modos que fiqui cumovida…ainda me tenti sentari antes que me dessem os almareios mas nam consegui parari...era muita cumoção pra uma cadeira.
Aquilo eram a mánicas do soli, eram as mánicas dos outros astros todos (ouvi dizeri que ate se consegue ver as Ursulass com aquilo…mas disso ainda fiqui com duvidas, só cá tinhamos uma e nam foi lá, por isso acho que ninguem a viu) eram mánicas das Televisões, dos retratos, autifalantes para se falari mais alto, autifalantes pra nam se falari..enfim..um mundo cheio de novas alfaias e pessoas que parece que sabem mexer nas ditas.
A Ti Miséria foi comigo e dizia que nam entendia nada daquilo mas que lhe parecia beim…e se ospois eu a deixava veri à noite no Meo o filme, pra veri se entendia melhori. Já lhe disse que o que é Meo é dela mas ela faz sempre cerimóina…
Estavamos todas contentes, afinali o nosso Alegrete já nam era assim tam longe das Rotas das pessoas importantes e mais dia menos dia ainda vamos aparecer no mapa astrali de mais alguem…
Constou que a Mari cigana ficou desconfiada por mondi lhe irem tirar o ganha pão…temia ficar sem mãos pra leri ..mas ospois como foi ao almocinho com a genti aquilo passo-lhe (agora podia contari o que foi almoço e como é bonito de veri as pessoas importantes nestes momentos..mas nam conto).
Houve uma altura que me assuti, assim dum de repente o senhori presidente alevantou-se, com as sua Maria atrás e atrás dela uma catrefada de gente..ele era o governadori, os desgovernadores, os guardas costas, os guardas frentes, os Drs de fora, os Drs de dentro, atéi o compadri zei seguia em fila atrás do homi..e foram todos direitnhos à casa das necessidades ou das fezis (nam sei bem o que lhe chamari pois eu estava mesmo aflitinha)..esbugalhi os zolhos e ainda alevanti os braços..mas afinal antes que me pudesse dar uma coisinha, eles sairam todos pla outra porta acenando à gente e a dizeri "deixem-se estar"...e antes que nozes pudessemos perguntari se podiamos tambeim brincar..plofff o homi foi-se..
ufff..
Foi um dia cheio de soli e de muitas alegrias…agora deixem trabalhar o mê compadri Zei que eu cá pra mim ainda o vou veri a expandiri o negocio ali pros lado da estrela, quem nasci com ela num certo sitio, mesmo que queiram, nam o conseguem parari…desconfio atei que é desta que o homi vai à lua.
Pronto, espero que nam vos tenha moido muito e que tenha sido clara, mas caso nam leiam os jornais, nam oiçam a plantici nem vejam os Telerurais, podem sempre dar uma vistinha de zolhos aqui noutros compadris que tambeim lá foram, têm estudos e explicam tudo a modos que muita bem explicadinho…Drs! já a minha avó dizia: "o saberi é uma coisinha muito bonita"...e ei!(isto disse eu)

Aqui:
http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/

e aqui
um cadinho mais doce...

http://acucaramarelo.blogspot.com/

Deixe-me só terminari dizendo o quanto gosti deste dia..soube beim porra! (ai lembri-me da barragi…ok nam conto..fica pra despois)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Estórias do mê Alegrete...não deixes para amanhã...


Vocezis nem vão acreditar nos que vos tenho pra contari, nem eu sei se acredite ainda…
Mas foi assim, onti à nôti nam drumi..nadica memo!!!
Nam sei se era aquela coisa moderna das insónias ou a falta de sono que se apoderou de mim..mas logo logo pinsi que só podia ser uma das duas.
Deiti-mi como faço sempre, ospois de me lavar e apagar o candeeiro como nam podia deixar de seri..éi queu cá nam consigo mesmo drumir com as luzes nos zolhos.
Bem, deiti-mi, tapi-me, aconchegui-me nos lançois e fechi os zolhos….esperi..esperi mas nada. Fechi os zolhos com mais força ainda mas..nada de nada.
Reviri-mi na cama e prócuri outra posição, as cruzes por vezes començam a moer-mi…mas nada!
Foi então que no meio daquela escuridão toda comeci a ouviri um tic tic tic tic no quarto..acendi a luz do candeeiro e dei logo com a origem do tal barulho…atão não querem lá veri que os mês chinelos de quarto andam numa andança que só visto de um lado pro outro?
Nam quis acreditar, esfregui os zolhos e volti a olhar melhor…mas lá estavam os malandro na mesma, andavam sem parari plo quarto fora..alevanti-me e tenti pegar no robi pra nam ter frio enquanto ia apanhar os malandros mas eis senão quando o magano do robi nam veim….de braços cruzados sentado no cadeirão do quarto..ficou-se-me ali assim a desafiar-me.
Fiquei incognita..ou incregnita…ou incrodola ou lá o que ei..mas nam me adiantou de nada..ele nam se mexia e os chinelos nam paravam..
Olhi pro candeeiro que começou a acederei e apagari mesmo ali à frente dos mês zolhos….o livro que andava pra leri há séculos, que estava tam lindo e sempre sossegadinho encima da mesa, começou a abrir e a fechar..o penico que tinha debaixo da cama, pro mondi as fezis que me chegam assim de repelão, começou a saltari como doido…parecia que o mundo todo tinha enlouquecido e só eu estava a ver o fim do dito.
Fugi do quarto a sete peis, sem antes fechar atrás de mim a porta com a chave que estava sempre no lado de fora da dita…nam fosse o caso de eles virem atrás de mim. Entrei na casa de banho a suar por todos os lados…já com afrontamentos e tonturias…agarri-mi ao lavatório e de cabeça baixa para me virem os ares ouvi….pssiuuuuuuuu…psssttttttttt…psssiuttttttttt ou assim..olhi e no espelho estava uma louca, só podia, cabelos no ari e os zolhos esbugalhados e fazia aqueles sons estanhos enquanto piscava um dos zolhos pra mim..
Socorrooooooooooooooooooooooooooo, griti eu.
Fugi novamente dali e fui correndo até ao monti do Ti Chico, apanhi-o ainda a drumiri mas na quis saberi…abani-o, sacudi-o. Bati-lhe na cara cas duas mãos e no fim jogui-lhi com o copo de agua com a dentadura que ele tinha sempre ali a jêto.
Lá consegui…ufff
Sentou-se na cama a olhar pra mim assim com ari de poucos amigos (cada um tem o seu acordari nei?)..
Ai Ti chico vocei tem que me ajudari, disse-lhe assim com o mê ari mais aflitinho que aranji no momento.
Agora comadri? Disse ele..
Agora compadri. Disse eu..
Agora comadri?? Disse ele novamente sem se mexer da cama.
Agora compadriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Disse eu já a puxar o dito debaixo dos lençois…assim com bons modos pra nam aleijar.
Pronto nam se zangue, vamos lá a saber o que é que se passa..hoji. Disse ele.
Tenho a consciência à solta pla casa compadri.
E nam me larga enquanto eu nam fizer o que tenho que fazeri..
Ele já vestindo as ceroulas, a camisola interior, calçando dois pares de meias, as botas caneleiras, vestindo uma blusa de lã e a samarra disse:
- Vamos lá tratar da horta melher, é sempre assim, se sabe como ei porque raio nam faz as coisas quando têm que ser fêtas??
Mulheres!!
Ainda levanti o dedo pra lhe responderi mas pinsi melhori e resolvi deixar a resposta para depois do servicinho fêto…
Assim foi, os dois juntos apanhamos o grão, colhemos batatas, couves, feijão verdi, vimos se havia ervas daninhas no canteiro da hortelã…colhemos laranjas, maçãs e peras, alguns kiwis (ainda estou pa saber como raio estes foram lá parar..) seguimos pro galinheiros e depenamos dez galinhas e um galo, matamos o porco, demos de comer aos coelhos e ordenhamos vinte e duas vacas. Corremos ainda a tempo pro olivali e varejámos cento e duas oliveiras, apanhámos as zêtonas e ensacamos, carregámos o carro das bestas…e antes que o galo cantasse fugimos até ao estábulo para dar a palha ao burro…foi nessa altura que se jogámos pro monte de palha e o Ti Chico ainda com força pra rir e mangar comigo disse:
Comadri..ê cá já nam tenho a força de antes, se nam se importa agora dromi sozinha…e dizendo isto foi-se!
O galo cantou à hora certa, cheguei a casa e estava tudo no lugar de sempre…
Deiti-mi e quando estava já quase quase a drumiri ouvi um som estranho vindo do guarda fato….pegui na bota e atiri-lha.
Até prá consciência há limites!
Amanhã logo agradeço ao Ti Chico

Estórias do mê Alegrete...3 dias é muito tempo!


Atão vocezis já devem saber que neste dias parece que é carnavali nei?
Pois, com isto das netis as noticias espalham-se pior que o pólen dos meus malmequeres do campo…depois queixam-se das alergias e assim..
Bem, mas o que vos queria contári é que apanhi um susto tam grandi, mas tam grandi que nem sei como nam fiqui estatelada naquele dia..
Ora foi assim que tudo se passou:
Estava um lindo dia de chuva e quando acordi nam me apeteceu alevantari logo, fiqui-me assim como a fazer nenhum, estendidinha a olhar pró tecto….foi ai também que pensi que tinha que limpar o candeeiro e o telhado, mas passou-me logo esse pinsamento.
Beim, fiqui-mi mas nam pode seri por muito tempo…ouvi logo de seguida um barulho vindo do alpendri assim a modos que um cacarejar diferente…
Hummm pinsi eu, querem lá veri que é as galinhas por mondi a chuva que virem abrigar-se no mê alpendri??
Mas não…mal tive tempo de apanhar o robi e calçar os chinelos de quartos…sim, os tais lindooooos que compri na feira de Castro.
Sai prá rua e dei de caras com duas maçãs rainetas ( ou seriam Rei' nam..eram gajas só podiam ser Rai..) a barafustari e gesticular como doidas..
Tentei acalmar os ânimos mas a sorte foi que o feijão frade já se tinha metido entre as duas (só não entendo porque raio nam fazia nada e ficava apenas a levar encontrões duma e doutra e com uma cara cada vez mais pateta..enfim..)
Depois de conseguir segurar uma pelo pei, a coisa acalmou e eu lá pudi falari..
- ora então que raio vem a ser este escabechi logo pla manhãe? Hum??
Disse eu fazendo uma cara daquelas….pois!
Foi então que a mais verde das duas se resolveu a contari o que passava..tinha sido o Ti Chico que logo de madrugada passou pelo pomari e olhando pras elas disse:
Ainda não estão boas nam senhori! E abalou a apanhar laranjas..
E desde ai que começou esta confusão, uma diz que a outra éi que éi verdi, a outra diz quei a outra..a modos que se pegaram.
Ora ora ora…disse eu sem saberi mais que dizeri..
Depois fez-me luz…era o raio do sol a se levantari…
Franzi-me os zolhos e sem dar conta fiqui com cara ainda de mais zangada e olhando pras duas maçãs resolvi dizeri:
Ide..ide mais é trabalhari…
E elas foram..
Com a toalha ao ombro, oculos de soli e com um pote de creme de cinoira nas mãos.
Pinsando eu que a coisa estava mais calma mas qual nam foi o mê espanto quando vi viri ao longe um grande ajuntamento de nabos a cantari..mãma eu quero…mãmã eu quero…com duas cinouras a bater em tampas de tacho, um pupino disfarçado de couve flor, duas alfaces em bikini, uma couve de Bruxelas vestida de baiana e um tomate disfarçado de ketechupi.
Pari e nem me mexi..deixi-os passari como se nem os visse…
Ospois mal eles já iam direito ao monti do Ti Chico…corri com toda a força que tinha e só pari no adro da igreja..
Ajoilhi-me mali vi a cruz e fechi os zolhos com toda a força que tinha..
Rezi, rezi, rezi..quer-se dizeri..canti a musica da reza mas sempre mãos postas po senhori…
E já era quase noti quando me quis alevantari e nam consegui…
Eu bem sabia que nam me devia ajoelhari assim tanto tempo..mas a aflição era tanta que esqueci as doris.
Passou um pêro daqueles das feiras, olho-mi desconfiado…eu estendi a mão e com tanta dori só me saiam uns sons pla boca…
O magano mete-me uma moeda de 1 aerio na mão e disse..
Melhor que isto só o Ti Chico vestido de matrafona..
E abalou a rir rua fora…
Nesse momento saiu a Ti Miséria da igreja, trazia uma roupa de freira e comia qualquer coisa cas mãos, ria a bom rir..olho-me e disse:
Cumadri devia ser mais que três…isto assim ei que ei uma alegria.
Hummmm, pinsi eu ainda de joelhos no chão e toda torcida cas dores…e atrás da Ti miséria vinha o senhori Priori a mexer-se muito, esfregava as mãos e com um sorriso maroto na cara, olhou a miséria e disse…vamos lá cumadri, hoje carnivali (ele tinha um problema na fala mas hoje parecia piori)..e de braço dado desapareceram-me das vistas.
Nam me aguenti com o que pinsi..nam podia seri!! Nam queria acreditari!!
“deviam ser mais que três? Hoje carnivali?”
Senti-me e só me mexi dali quando o Ti Chico passou..e vi que levava a minha combinação, os colotis e o espartilho que eu deixara no estendal no dia anterior…
Isto de ser a única a andari normali nestes dias não é muito bom nam senhori…mas nam me consigo juntar a grupos quei que querem!!!
É por estas e por outras que a época que mais gosto é o Natali…plo menos sempre se vestem de virgens e de santos.
A sorte é que são só três dias…
Deiti-mi e esperi que passasse…
Ospois conto como foi o mê acordari ao fim do sétimo dia…
Hum?
Tão, uma pessoa nam podi andar cansada??