Era tão boa a vidinha no campo...







quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009





Hoje alevanti-me com muitas fezis,que é como quem diz (aqui no me alegrete) muitas preocupações e a cabeça feita num oito de tanto pensar. Ora beim, alevanti-me, lavi-me, vesti-me, calci-me, nam me pinti porque só os faço em dias de festa (e só besunto os beços, gosto da beleza ao naturali) comi e bubi o cafei da manhãe e fui logo tratar da bicheza antes que fosse mais tarde e começasse tudo num reboliço. Sem tempo a perder, dei o milho aos porcos , às galinhas o fardo de palha e ainda tentei ordenhar uma ou duas mas ospois desisti, as maganas estavam meios secas e eu tinha mais que fazeri, às vacas vi se tinham ovo (nam tive sorte) e deixi-lhes alpista, nam me preocupi com as ovelhas pois sabia que as tinha regado ontem quase à noitinha, segui plo canteiro dos manjericos e vi que estavam quase no tempo de os ceifari, talvez pa semana, as couves andavam num vai e vem, pra não variar, mas nem as tenti colocar no lugar, um passeio matinal faz bem a qualquer um. Ouvi atrás do chaparro um tal som que me fez lembrari do Feijão Frade..e plo piar, desta vez estava com o raio da gata (já não lhe punha a vista em cima desde ontem pla hora do almoço)mas tbm nem ligui, ospois trataria de ter uma conversinha com ele. . .daquelas que já devia ter tido, quando um belo dia ele me perguntou como raio fazia para colocar uma camisa e depois não me deixou veri se lhe ficava bem..mas enfim, só desconfiei quando me começaram a aparecer à porta as cestas com feijões pretos e outras com feijões canários. Bem, tinha o Alegrete tratado podia ir tratar do resto, hoje era dia de ir lavari à rebêra e nam me podia atrasari, o sol quando aperta nam me deixa com genica para os esfreganço, tinha que chegar antes que ele ficasse a pique. Coloqui a trouxa da roupa no alto da cabeça, uma mão em cada anca e lá fui eu ladeira abaixo toda lampreira. Quando chegui, pranti a trouxa no chão, olhi em redor e lá estava a minha pedra de lavari no mesmo sitio aondi a deixi na ultima vez (é bom ver que algumas coisas não mudam), ajoelhi-me e comici pla roupa branca, sim, tudo tem um preceito de se fazeri, e eu cá a lavar sigo sempre a mesma ordem. lençois, toalhas, saias, camisas, corpetes, ceroulas, cuecas e outra roupita intima e só no fim os mês lencinhos de assoar todos bordados à mão. Depois de bem ensaboados, coloco a roupita a arear assim tudo plas moitas de estevas para lhes dar o soli , só ospois passo novamente pla agua da rebêra e troço tudo muito bem. Tenho dias, quando o tempo ajuda, que enquanto as deixo a arear e ospois a secari, vou dar uma voltita plas margens, apanho caracóis, espargos, agriões ou então deito-me um pouco debaixo de um chaparro a ouvir a agua a correr e os passarinhos a cantari..é mesmo linda a vida do campo! Hoje, estava eu no belo do meu passeio enquanto a roupita secava, aressolvi assentar-me num pedregulho junto à agua e entretinha-me a jogar as pedrinhas pró charco (manias). Estando eu nesta bela entretenham comeci a sentir uma coisinha estranha, assim a modos que quando nos sentimos observados, mesmo muito, mas não sabemos porquê nem por quem. Olhi em redor, uma e outra vez mas nada vi…mas de repente, mesmo ali ao meu lado ouvi Chuac..ou croaac..ou lá como foi! Assuti-mi, alevanti-mi ainda com uma pedra na mão e fixei (com os tais zolhos nos zolhos) a criatura que olhava pra mim. Ai vocezis nem imaginam, era grande, verde, de olhos esbugalhados, viscoso e olhava-me com um ar de apaixonado que só visto. Croac..croac..continuava a criatura. Hummmmmmmm (pinsi eu) querem lá ver que este é um dos tais? Sim, um daqueles sapos encantados que só com um beijo volta a ser príncipes, lindos, louros, espadaúdos, ricos, e muito, muito apaixonados pela criatura que os desencantou?! Oh meu Deus me Deus! Oh meu rico São Tomás, o querido São Cristóvão, oh meus santinhos todos do céu (já aprendi que quando estou aflita, mas muito aflita mesmo, não faz mal nenhuma chamar plos santinhos todos, assim como assim temos sempre que ser nós a resolver o problema e fica sempre bem mostrar uma certa dependência das divindades). Resolvi ter calma e enfrentar a situação, respiri fundo e senti-me, olhi po bicho mais uma vez e…até que lhe comeci a achar uma certa gracinha ..não devemos julgar os outros plas aparências nei? e se fosse mesmo verdade? Olhi em redor mas nem vivalma (é sempre assim!! Almas so as do outro mundo em certas ocasiões!!) tomi coragem e agarri os bicho com as duas mãos. Ele nem tentou fugir e olhava-me com uns olhos de carneiro mal morto, mais uma vez me lembri do Feijão Frade..devia ser lindo se ele apanhasse este bichinho a jeito!! Até me senti corar com este pensamento e tentei fixar as ideias na criatura que me olhava cada vez mais carneiro e mais morto. Fechi os olhos, sei que estava franzida porque o me lenço da cabeça me caiu pás vistas (era melhor assim, nem via mesmo se abrisse os olhos), cheguei as mãos ao beços e quando estava quase quase nam é que o magano me bejou a mim?! Fiqui antónia, zonza, com tonturias como da outra vez mas nam caí, logo logo nem quis acreditar, mas era verdade! O sapo beijo-me!!! Blhackkkkkkk Que bicho mais parvo, então ele não sabia que tinha que ser eu a dar o beijo? Que assim ele não se transformava no príncipe belo, louro, rico, espadaúdo, valente e sei lá mais o que ?!!! Croaac croaac dizia ele e parecendo não se importar com a minha aflição saltou-me das mãos e foi apanhar moscas. Ora querem lá ver que vou ter que andar atrás do bicho?! Ainda o chami com meiguice, fiz boquinha e olhinhos de sapa apaixonada mas nada, o bicho tinha desistido de ser príncipe. Nam terá gostado do bejo? Terei apertado o bicharoco demais? Foi ai que me alembri que a roupa já devia estar seca. Fiz a trouxa e com o mesmo jeitinho de desci a ladeira voltei a subiri, trouxa na cabeça, mãos nas ancas e lá vai ela toda lampreira até chegar de novo ao me Alegrete. O sol já se punha mais uma vez, é um gajo de hábitos, sempre no mesmo local e à mesma hora (mais coisa menos coisa)..ainda é das poucas coisas certas no me Alegrete (não sei até quando). Parecia tudo normal ali, aceni a Ti Miséria que descascava favas junto ao canteiro dos alhos-porros, as couves andavam correndo como vacas loucas, os malmequeres choravam sempre que olhavam para os amores perfeitos, os nabos ficavam simplesmente ali..a ser nabos e eu sorri ao ver que no me Alegrete a vida continuava igual. Fez-se noite e cansada não resisti ao sono, ao aconchegar no travesseiro senti uma picadela na cabeça que fez dar um salto da cama. Ufff Tirei a coroa e adormeci como uma princesa de contos de fadas.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ESTÓRIAS Do Mê ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo V




Era um daqueles dias em que o calori me atordoava, nem o vento mexia nem nós respirávamos, embora todos se sentissem vivos no me Alegrete. Era mesmo um daqueles dias que foram feitos para nada fazer. O fim da tarde chegava de mansinho e eu cansada, assenti-me na soleira da porta olhando o horizonte, que todos os dias era o mesmo mas eu conseguia ver sempre diferente. Bem, senti-me e fiquei ali a nada fazer..e nem imaginam as coisas que se fazem assim. Ao longe o ti Chico conduzia o carro das mulas para o monti..aceni-lhe ..assim com um levantar de braço único, daqueles em que parecemos querer tocar no céu, e de lenço na mão em vez de estar na cabeça (por mondi me abanar com ele) fiquei ali sem contar o tempo a dar a dar com o braço e sem nada dizer, o ti Chico era bom homi, calmo e sempre de poucas palavras (acho que só aprendera as certas e sabendo-lhe o valor não as usava em vão), olho-me lá de longe e de chapéu na mão repetiu o mesmo gesto que eu fazia com me lenço…naquele momento entendi todas as palavras que ele não disse e sei que também ele sorria…queria-me bem e eu bem lhe queria. Passado algum tempo, nem sei se muito se pouco (no me Alegrete ninguém sabia ver as horas, só os minutos eram contados..mas longos, muito longos os minutos aqui) senti que alguém se aproximava, só depois vi ser o Ti Chico que já a pei resolvera vir nada fazer comigo. Bôtardi, disse ele. Bôtardi ti Chico, respondi. Ele sentou-se junto a mim e encostando a enxada à parede olho-me mais uma vez, fica bem com o cabelo ao vento melher, disse ele daquela forma que só ele sabia dizer coisas sem jeito..pois se algo não havia naquela tarde era vento..acho que me assubiram os sangues à cara..mas disfarci a coisa e nem respondi… Suspiramos os dois enquanto fixamos o olhar naquele horizonte onde todos os dias se punha o sol..pla primeira vez nessa tarde, em que nem o vento mexia nem os seres respiravam, se viram mexer os ramos das árvores e tenho a certeza que vi duas moscas perderem o controle do voo ..quase quase a certezinha!! Naquela tarde o sol levou toda uma vida a se pôr…só quando a noite caiu de repente é que eu e o Ti Chico nos demos conta que já eram horas diferentes, já cantavam os grilos, o gato procurava o tapete para se enroscar, as minhas mãos perderam a suavidade de outrora, não sei como mas o lenço cobria.me novamente a cabeça, ele parecia mais baixo e tinha chapéu no lugar dos cabelos pretos, sim já eram horas diferentes. Levantou-se e segurando-me a mão disse até amanhã, sorri e contive as palavras que não sabia certas. Amanhã talvez volte a ser dia em que o vento não sopre, em que não se respire no meu alegrete, e ai voltarei a ter cabelos soltos ao vento mesmo quando vento não há e passarei toda a tarde a nada fazer…

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo IV




No dia da revolução eu cá nam saí à rua. Fiqui-me deitada esperando que alarido passasse ouvindo na rádio aquelas canções que agitam as massas . . .dizem que foram discos pedidos mas cá eu nam sei, não ouvi a frase. Lá fora, os cravos faziam das suas..tal como eu tinha pensado..andavam de mão em mão, de boca em boca, doidinhos de um todo… Ca pra mim esta coisa da liberdade é bonita mas tambeim não precisam fazer tanto alarido. As únicas que ainda mantinham alguma compostura eram as couves de Bruxelas, ficaram-se ali a olhar com um sorriso meio parvo como se nada fosse com elas. Os tomates (mesmo os pequeninos e verdes) estavam completamente fora… do seu canteiro, as cebolas choravam, como madalenas arrependidas, gritando vivas aos cravos que se passeavam nos carrinhos de mão todos vaidosos. O feijão frade aproveitou toda aquela movimentação e saiu também aos gritos “amor livre..amor livre”. As galinhas, já sem penas, corriam ribanceira abaixo e a cantar de galo. O galo ficou sem piu e fugiu prá quinta do me compadri Jaquim (dizem que ainda o apanharam a tentar disfarçar a coisa, com sotaque brasileiro e tudo). Bem, o me alegrete estava numa agitação nunca vista e eu só receava ter o burro nas couves…mas já que estava deitada drumi-mi. Nem sei bem quanto tempo passou, quando acordi sai meio zomza da cama , calci as botas do trabalho, pranti o aventali bordado à mão e o me lindo chapéu de palha ,com malmequeres amarelos, na cabeça por mondi o soli. Abri a porta ainda devagari por mondi nam acordar ninguém, agarri no cesto e na enxada e raspi-me alegrete fora. Olhi, olhi e volti a olhar…logo logo, tirando nam ter ouvido o galo cantari, nam achi nada de estranho..passando plo canteiro dos pés de salsa é que tudo me veio á mimória. Em vez da salsa estavam lá uns coentros armados em pezinhos novos, falavam muito em povo e barafustavam com as mãos no ari. Hum (pinsi eu), querem lá ver que agora para fazeri a açorda vou ter que me por a cheirari os pezis primeiro?? (é que eu nam me enganava nos temperos por mondi eles estarem sempre no lugar certo..) No galinheiro já quem cantava de galo eram as galinhas sem penas, os porcos já nam eram os mesmos (pareciam mais brancos mas plo cheiro nam me enganavam, eram porcos!!!) Estava quase a ficar convencida que o me alegrete tinha mudado pa melhor quando me lembri de mim. Sim, qual o me lugar agora no meio de tanta confusão?? Comeci a ficar nervosa..com tonturias, almareios, gomitos, sem forças nas canetas, já nem conseguia falari e foi quando me alembri que sabia falar com gestos (os tais que valiam à volta de mil palavras)..já quase a cair ainda tive tempo de alevantar a mão pa pedir ajuda, sem saber bem o que dizia, alevanti o dedo indicador e o outro (o tal que quando sozinho parece tal e qualmente um palavrão)..e qual nam foi o meu espanto que do de todo o lado me respondiam com o mesmo gesto. Ele era o Molho de brócolos, as alfaces, as cinouras, as couves, os coentros, a salsa, os rabanetes, os pupinos, a fruta (estava pior que uma salada toda misturada), os animais..enfim, tudo o que mexia no me alegrete estava de braço no ari e a repetir o meu gesto enquanto gritavam “Vitória, Vitória” Então querem lá ver que eu estava quase a morrer de aflição sem saber o que seria feito de mim e eles ainda cantavam vitória?? Ospoi ao longe cantou o galo… Eram horas !! alevanti-mi ainda a tremeri, não sei se dos nervos se de raiva mas… SONHOS assim só no me Alegrete!!

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE..e outras coisinhas do campo III





ERA UMA VEZ UM MOLHO DE BRÓCOLOS Era uma vez um molho de brócolos metido a intelectual. Tudo aconteceu quando me encontrava entretida a apanhari caracóis no me lindo alegrete. O dia, cinzento e chuvoso exigia-me maior perícia para tal actividade, abria os zolhos de uma maneira esbugalhada e colocava-me em posição de atleta no inicio de corrida (sim, mesmo de cu pró ari), esperando cuidadosamente que os caracóis não demorassem muito a sair da casca. Sim, eu gosto de os apanhari com os corninhos de fora, olha-los zolhos nos zolhos para depois, dar uma gargalhadinha vitoriosa quando os coloco no saco. Trazia as minhas botas do campo (lindaaaaas lindaaaaaaas) e patinava mais do que caminhava plo meio do lamaçal que se formara na horta. As couves (mesmo a doida que nem uma vaca) dedicavam-se à prática desportiva (natação 100m costas sem grande estilo) enquanto os tomates e as cenouras faziam claque numa barulheira infernal. Logo logo, ainda pensi que não tinha escolhido um bom dia para a apanha dos caracóis, ospois pensi melhor e decidi que talvez com a chuva eles nam me fugissem tanto e eu conseguisse bater o recordi do me compadri Jaquim (so duma vez apanhou 4). Estando eu naquela linda posição de atleta pronto para se lançar em corrida (fica feio dizer que estava de cu pró ari) quando mesmo ali ao me lado ouvi um Pssssst pstttttttt. Olhi po céu,na esperança de ser o Senhori a tentar dizer-me alguma coisinha, visto já lhe ter feito uma quantidade de perguntas e até à data respostas não tinha, mas apanhi com um pingo de chuva mesmo na ponta da batata (que é como quem diz no me lindo nariz).Achi que nam devia ser daqui que me chamavam e olhi em volta. Vocês nem vão acreditar no que eu vi, mas eu conto na mesma, estava um lindo, verde, e viçoso molho de brócolos no alto do marmeleiro a acenar-me com um jeito meio estranho. Pssst pssssssssssssst (dizia ele novamente). Hum? Arrespondi eu com ar de quem duvidava estar a ver e a ouvir coisa que fizesse sentindo. Antes que eu dissesse mais alguma coisinha o molho de brócolos desceu do marmeleiro E entregando-me um papel onde se lia: Aviso: Avisam-se todos os habitantes do alegrete, vegetais, animais, humanos e afins (??, que amanhã, dia Internacional dos molhos de brócolos, iremos realizar uma manifestação contra a Desordem que se vive actualmente aqui. Concentração junto ao canteiro da hortelã, logo que o galo cante. Se faltares não te queixes depois. Assinado: Molho de Brócolos (Engenheiro de Minas e armadilhas , Dr. Em Politica de Massa com grão de bico e Mestre em culinária vegetariana ) Devem estar a ver como fiqui néi?? Verde e sem forças, as pernas bambas como o espargueti que comi ao almoço, comeci a ver tudo andar á roda e so tive tempo de me assentari antes de desfalecer todinha. Ainda disse aiiiiiiiiiiiiiii, mas ospois cai estateladinha no chão, olhi em redor e griti socorroooooooooo.. mas nada, a Maria do Socorro devia ter ido à vila, era dia de consulta e ela andava mal das dores, atão aresolvi socorrer-me sozinha. Arranjei forças e já dempei resolvi agir antes que se fizesse a revolução dos brócolos no me alegrete. Eu já tinha ouvido falar nestas ideias revolucionárias e sabia bem que o molho so tinha força por isso mesmo..e também porque o magano anda a ler coisinhas estranhas nas folhas dos jornais vindos lá de fora.. Antes que chegasse o dia e a hora marcada eu iria tratar de arranjar solução.. Depois de uma boa sesta (tinha apanhado 5 caracóis só num dia) sentia-me como nova (bem, quase como nova..), e foi ai que tive uma ideia brilhante para acabar com a loucura da revolução do molho de brócolos. Pegui no telemoveli e escrevi uma SMSMS (ou seria uma MMSSMM, ou um MSMSMS?? enfim, nam importa!) amandi aquilo pos numaros todos da minha agenda (de A a Z sem faltari o k, o Y e o W que no me alegrete, com esta coisas das importações, até já tenho Kiwis e Kouves armadas em modernas).. Comecei a ver que a coisa estava a dar resultado, quando no canteiro dos amores-perfeitos se começou a ouvir zunzuns de infidelidade e o me compadri Jaquim se queixou de não conseguir juntar o rebanho de ovelhas. No dia marcado, junto ao canteiro da hortelã e depois do porco cantar (sim, eu ainda não vos disse mas o raio do feijão frade continua caído de amores..) ninguém apareceu. Ai ai, o que umas simples letrinhas e um pouco de imaginação podem fazer!! Imaginem se eu soubesse mesmo escrever com jeito.. Mas não vou ficar descansada pois estou cá desconfiada que o raio dos cravos andam a tramar alguma, no outro dia ouvi um a comentari que UM DIA OS ENCARNADOS GANHAM ISTO!!! (o me compadri jaquim pensa que estavam a falar de futeboli mas eu cá ..plo sim plo não vou ficar de olho neles). O pior desse dia é que que com a confusão me esqueci dos caracóis mesmo no canteiro dos pés de salsa.. Ta beim, ospois conto..

ESTÓRIAS DO Mê ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo II




ERA UMA VEZ..UM FEIJÃO FRADE Era uma vez um feijão Frade, verde, viçoso, estaladiço, apetitoso, tenrinho e doido, muito doido por sexo. Não me perguntem o como nem o porquê de tal doideira, era e pronto!!! Esta um belo dia de primavera, o sol brilhava num céu azul e os passarinhos cantavam e faziam aquelas mariquices todas que se fazem na primavera e tal.. Sai pela manhã a caminho do me alegrete das couves (com a minha habitual roupita de trabalho, o avental bordado à mão e uma camisa de folhos com as mangas arregaçadas por mondi o calori. Ah, e tinha em vez do me chapéu de palha com malmequeres amarelos, um belo lenço colorido atado no alto da cabeça que me ficava mui beim)e antes de chegar a meio caminho escuti uma algazarra que me fez parari logo ali. Pari, olhi, escuti novamente e nam se ouvia nada, nadinha, nadica. Homi esta!!! Será que já estou a ouvir vozis?? Pinsi eu. Continui a andari e nam é que volti a ouvir o mesmo barulho vindo bem dali de perto?? Hum, aqui há gato!! (pinsi eu novamente) Pari, olhi, escuti e nada de nada. Alguma coisa se estava a passar mesmo ali por baixo dos meus narizes e eu nam descansava enquanto não soubesse o que era. Senti-mi junto ao chaparro meio escondida pela sombra do dito e pus-me à coca. Então nam ei que assim logo de seguida ouvi, vindo do meio de uma moita de estevas o tal zurruru? Parecia-me de aflição pois eram aiiiiiiiiiiis, uiiiiiiiis, uffffffffffs, yessssssssssssssssss. yes??? Sim senhor, não era engano, eram yessssssss mesmo que eu ouvi!! Ai eu tinha que fazer alguma coisa e rápido!! Só nam sabia como haveria de socorrer a criatura uma vez que ela parecia falar estrangeiro, mas pronto, dizem que o gesto vale mais que mil palavras e eu sabia mais do que uns vinte e tal gestos o que queria dizer, fazendo bem as contas, que isso daria mais do que umas vinte e tal mil palavras (isto tudo com a 4ª feita de noti e já depois de velha)..txiiiiiiiii até fiquei meio vaidosa de me saber senhora de tanto palavreado sem ser preciso falari!! Bem, alevanti-me e sai da sombra do chaparro, de braços no ar a gesticular a modos que de aflição e corri direito à moita.. Aiiiiiiiiiiiiii, griti eu. Aiiiiiiiiiiiiiiiii me Deus, griti eu novamente. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiii aiiiiiiiiiiiiiii me Deus me Deus………..gritou o eco. Vocezes nem me vão acreditari mas nam é que atrás da moita estava um Feijão frade, verde, viçoso, estaladiço, apetitoso tenrinho e doido, muito doido a fazer o amori co uma batata doce grelada??? Passi-mi pois tá claro!! Atão o sem vergonha do feijão frade queria-me desgraçar a horta?? Atão nam me chegavam já desgraçadas das minhocas e dos outros bicharocos que me comiam as couves e vinha agora um feijão, ainda por cima frade, a comer-me a batata assim sem mais nem menos?? O gajo ficou sem saberi muito bem o fazer, ainda tentou dizer alguma coisa mas eu nem deixi. Disse logo: cale-se faxavori, seu, seu, seu..nem arranji nome capaz de lhe chamari, foi então que me lembri dos gestos que valiam mais que palavras, alevanti a mão e fiz-lhe aquela coisa feia com o dedo do meio e coloqui a língua de fora ao magano. A batata coitadinha só dizia: Eu juro que nam queria, nam queria, eu até nem gosto de feijão e tal.. Eu confesso que nam acrediti muito na magana, eu bem vi que o yessssss só podia ter vindo dela, era batata importada lá de fora (também há quem se importe cá dentro, juro!) e ninguém me tira do sentido que é ela quem organiza aquelas reives no alegrete. Bem vamos lá resolver isto a bem, disse eu fazendo cara de entendida no assunto, mas juro que nam sabia muito bem o que fazer com uma batata doce e um feijão frade. Eu caso, eu caso, gritou logo o feijão frade. Olhi pa batata como que a perguntar o que é que ela achava disso e a magana começou a rir a bom rir. Fiquei mais antoína que as antoínas…antónita melhor dizendo. Querem lá ver que ta-se a rir dos nervos que apanhou ou ver que era desta que desencalhava?? E a magana nam parava de rir, ria e ria e ria até que se jogou ao chão rebolando e rindo, rindo e rebolando e plof, ficou-se mesmo ali sem mais ai nem ui. O feijão aflito correu pa ela mas eu nam me consegui mexeri do lugari cus nervos que apanhi. Foi ai que o feijão frade, verde, viçoso, estaladiço, apetitoso, tenrinho e doido, muito doido por sexo disse: Que merda, é sempre a mesma coisa!! A couve ficou doida quem nem uma vaca, o porco a cantar de galo e agora esta da-lhe um cheliqui!! Nam tenho sorte nehuma no amori. E dizendo isto abalou-me dali cabisbaixo e de mãos nos bolsos a fazer uns movimentos estranhos nos ditos cujos. Até hoje nam conti a ninguém o que passou naquele dia mas ando cá desconfiada que no me alegrete anda coisinha de outro mundo. A sorte é que ospois quando acordo nam me lembro de nada..magnesia disse o médico. Eu repondi: nam sô tori sou Maria mesmo.. Pronto..foi assim!!

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE...e outras coisinhas do campo I



HOJE O GALO NAM CANTOU.. Hogi o galo nam cantou, por isso acordi sozinha e vi logo que já devia ser tardi. O soli já me entrava pla greta da janela nem me deixando abriri os zolhos com getos. Ainda meio a drumiri e com os chinelos de quarto (com um pompom cor de rosa lindoooooos) a arrastar plo chão, coloqui o robi (verde alfaci e com uns corações roxos bordados mt lindo tambeim por sinal)..dizia eu que saí pa rua para veri o que raio se tinha passado com o me galo. Mas antes de lá chegari vi logo que alguma coisa se tinha passado, no alegrete das couves dormia uma coisa verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e a ressonar que nem uma vaca..nem quis acreditari, levi as mãos à cabeça ao mesmo tempo que ia dizer : oh me deus..mas o o bando de couves de Bruxelas (que estavam roxas nam sei bem porque) gritaram todas em coro: Cala-teeeeeeeeeeee que ela é sonâmbula tadinha. E eu cali-mi! Segui em frente e fui até ao galinheiro. Mau, mau Maria (disse eu ,que por acaso tenho a graça de Maria e sempre achei estranho que quando algo corre mal toda a gente diz o me nome) Olhi novamente e nem coloqui os olicus (tavam tão abertos que dava para ver bem fosse a que distancia fosse), atão querem lá veri que tá tudo parvo???!! Pergunti eu. Mas como já me habitui a perguntar e nam ter resposta…desta vez nem esperi por ela. Mas nam é que o raio das galinhas estava depenadas?? Sim senhori, todas, todinhas sem uma única pena e feitas doidas cacarejavam enquanto se esfregavam plo chão. Hum aqui havia coisa e nam era boa!! Ainda me lembri das vacas loucas mas depois tiri logo isso da ideia, eu sabia que as vacas, mesmo as loucas, nam têm penas e teria sido impossível depenarem-se. Mas isto nam ficou por aqui, olhi po poleiro e nam ei que em vez do galo estava lá um porco? Sim senhori, um porco todo preto a dar as asas e a cantar de galo. Primeiro ainda disse: ai me deus…mas descansem que já nem olhi po céu. Entri devagar nam, fosse este tbm seri sonâmbulo, pé ante pé com os meus lindos chinelos de quarto com um pompom cor de rosa, e mal chegui perto do bicho agarri-o pla asa. O magano ainda deu um ou dois coices ,mas eu nam o largui, seguri-o mt beim e sai dali e levi-o pa pocilga. Quando o coloqui no chão o bicho até parece que mudou de cores estava vermelho que nem um tomate (nam sei se o facto de o ter trazido de cabeça pra baixo teve alguma coisa a veri com isso ). Olhi-o beem nos olhos, chegui-me perto e deu pa veri que estava envergonhado. Nam tive coragem de lhe ralhar mas disse-lhe com voz firme: agora ficas de castigo até aprenderes a cantar a horas certas!! Sai dali a correr e fui ver das galinhas, o galo já lá estava todo pimpão e as maganas com ar comprometido cacarejavam à sua volta. Fechi o galenheiro e volti pa casa pois tinham que me lavari e ir cuidar do alegrete, mas a meio caminho pari pois nam se me tirava da alembradura aquilo que vira no galinheiro. Senti-me junto ao chaparro e pensi, pensi e volti a pensari…..amanhã vou levar as galinhas ao médico (isto sou eu a pensari). Alguma coisa se deve poder fazer pelas coitadas!! E ao longe ouvi o galo…alevanti-me pois já eram horas!!

ERA UMA VEZ UMA COUVE




Era uma vez uma couve.. Verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca! Não me perguntem o porque, até hoje ainda não consegui saber porque raio aquela couve ficou assim. Estava eu numa bela manhã de soli a apanhar couves, com o meu lindo chapéu de palha com malmequeres amarelos, de avental bordado à mão com um grande laçarote na traseira e cas minhas botas do campo que nem as tiro pa drumiri, eis senão quando avisti ao longe…sim, a vista já não é o que era mas trazia nesse dia os olicus de ver ao longe…dizia eu que avisti ao longe algo verde, farfalhudo, viçoso, tenrinho e doido que nem uma vaca a correr a sete pés. Ai a porra que a cabra da vaca soltou-se!! Pinsi eu com os me botões..mas antes que conseguisse passar tal pinsamento pa palavras, dei-me conta que o que ia dizer não fazia sentido, tinha que me decidir, ou era cabra ou era vaca!! E ospois dei também por mim a pinsar que não tinha botões para pensar com eles..mas sim um bonito laçarote nas traseiras do aventali…e enquanto estava já tonta de tentar por ordem em meus pinsamentos senti um grande encontrão e pumba, estatelei-me bem no meio do alegrete das couves (chama-se alegrete porque consta nas redondezas que as maganas fazem aquelas festas duvidosas noite sim noite não, ao som de kizomba e a modos que com muita bubida à mistura). Bem,olhi e mesmo antes de me tentar alevantari, agarri na enxada que tava ali memo a jeto…Fosse quem fosse ia ver com quantas couves se faz um caldo, ai ia ia!!! Mas assim que lhe pus a vista em cima, a minha alminha ficou parva (sem comentários faz favori!!) atão nam é que me tinha esquecido de trazer os olicus de ver ao perto?? Só podia estar a ver mali!! Estava mesmo ali à minha frente uma couve, sim uma couve verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca. Pranti as mãos pró céu e griti: Me deus!! Oh me deus diga-me que nam tou doida!! Mas ele nam disse e cansei-me de ficar à espera. Atão alevanti-me e enfrenti a couve. Olhi-a bem nos olhos, mas a magana nem se mexia..humm entedi logo que se estava a fingir de morta. Dei dois passos (um com cada pei) na direcção da bicha e sempre com a enxada na mão nam fosse ela tentar algum golpe mais violento. A magana continuava sem se mexer, via-se que ainda respirava embora plo barulho que fazia nam fosse um respirar normali, sim que de couves entendo eu! Foi ai que resolvi, com um certo cuidado, agarrar a couve. Lentamente agarri a magana plo pé que estava mais a jeto, os outros seis também nam estavam muito longe mas cansar-me para quê nei? Quando já a tinha bem segura vi, com estes olhos de ver ao longe e ao perto dependendo dos olicus que trago na altura, que a couve estava a dormiri. Ainda olhi po céu novamente e ia a dizer “ai me deus..”ma resolvi nem perder tempo pois rarmente obtinha resposta credível lá das alturas..e com muito cuidado, fiz uma cova no alegrete, bem junto as outras couves que estavam roxas do susto, elas até eram de Bruxelas mas nem no estrangeiro se tinha visto coisa igual. Depois de colocar a couve verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca na terra, retirei-me tentando não fazer barulho. Olhi pás outras couves e disse: Shiuuuuuuuuu não a acordem, afinal era sonâmbula tadinha! Hoje cada vez que avisto ao longe uma coisa verde, farfalhuda, viçosa, tenrinha e doida que nem uma vaca, a correr a sete pés..sorriu e ajeito o raio da almofada. E só por volta das sete da manhã me alevanto para ir tratar das couves.