Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A Força da Comichão


Sinto um formigueiro por mim acima...
e coço
e esfrego
e volto a coçar...
E este formigueiro que não passa!
Olho em redor e vejo um carreiro...pequenas criaturas numa corrida acelerada..parecem ter pressa, ter rumo, ter vontade...
olho mais um pouco e vejo que algumas sobem pelo meu sapato, outras há que jazem ali ao lado, talvez tenha sido eu a causa da sua morte...um movimento mais brusco ou o meu simples caminhar, terá acabado com a vida de algumas deste carreiro...a lei do mais forte, pensei...
Mas elas são muitas e unidas...e seguem obstinadas o seu objectivo.
E eu rio-me de forma descontrolada...as maganas já me chegaram às orelhas, não as tivesse visto antes e pensaria ter um outro parasita a invadir-me a cabeça.
Enquanto rio, observo, penso em como acabar com esta sensação incomoda de comichão, cocegas, formigueiro...e constato ser impossível dominar sozinha tantas e tão pequenas criaturas...
De repente tive uma ideia luminosa...e com a ponta de dois fantásticos dedos, retiro do meio da confusão um simples pedaço de bolo...migalhas, doces migalhas, restos do que ontem comi e de que nem dei pela falta.
E com este gesto milagroso, desfaço o fio condutor e acabo de vez com o rumo de milhares de pequenas criaturas...é vê-las a correr em contra mão, fugindo como loucas...e se eram muitas, agora parecem poucas...cada uma a procurar saída.
Mas por questão de organização, ou por saberem da sua real dimensão e poder, do seu ser em conjunto, mal viro costas e elas, as que resistem à fome e ao cansaço, ao peso do meu pé e do sapato, reúnem-se todas outras vez e avançam decididas..rumo a algo concreto...que tal como um manifesto, é a base que as une e lhes dá força...seguir em frente e vencer.
Uma ou outra tresmalhada, qual ovelha perdida, não encontrará o carreiro nem escapará com vida.

História com estória das organizações de facto...embora haja liberdade para novos casamentos, mais modernos e sem escrituras...

Cão-fusão


O dono ladrou ao cão
E este sentou-se
Abanou o rabo
Apanhou a bola
Fez-se de morto
Pediu carícias
Deu lambidelas
Usou a trela
Vestiu abrigo
O dono prendeu o cão
Tirou ração e deu castigo
O cão uivou
Ganiu
Gemeu
Sofreu
Ficou velhinho
Perdeu o pêlo
Mas sempre fiel amigo
O dono ladrou ao cão
Que lhe trouxesse as pantufas
O jornal
Que fosse mijar à esquina
Que roesse o osso e calasse
O cão
Olhou e entendeu
E gemeu
Ganiu
Uivou
Ladrou
E roeu a trela
O dono olhou o cão e temeu
O cão olhou o dono e mordeu

Moral da história: nunca é tarde para aprender a ladrar...mesmo que sejas gato...ou formiga, vá