Era tão boa a vidinha no campo...







terça-feira, 6 de dezembro de 2011



Caça fantasmas

Depois do primeiro grito “ Rei Vai Nu”
Nunca mais ninguém se importara com a nudez real
E nas ruas a miséria dorme vestida de farrapos
Na tentativa, mais do que matar o frio..matar a vergonha
Depois da primeira viagem ao espaço
Ninguém duvida da inexistência de gravidade na Lua
E nas ruas, agravava-se o espaço existente entre as pessoas
Na curta distância entre os ombros e na enorme lonjura dos olhares
Depois da primeira virgem parir o salvador do mundo
Ninguém mais se preocupou com os vestígios de sangue no leito de núpcias
Por estar comprovado que os fins justificam os meios
E que há sempre alguém a olhar por nós
Depois da queda do muro de Berlim
Fizeram-se bolas para que engordassem os espíritos famintos
E adoçar as más línguas
Depois da invenção da pílula do dia seguinte
Engravida-se no dia anterior
Para cortar a voltas ao cordão da santa madre igreja
Depois de criado o banco alimentar
Empresta-se miséria a juros elevados
Para comprovar a bondade do homem
Depois de criado o paraíso
Só entra na Disneyland quem tiver o pecado do capital
Depois de se legalizar o aborto
Concluiu-se que os actuais violadores são estéreis
Depois da liberdade condicional dos comprovados fora da lei
Condicionou-se a liberdade das supostas vitimas
Depois a da escola inclusiva
Exclui-se a escola publica do mapa
Depois do serviço de urgência fechar
Que importa aumentar a taxa?
Depois da invenção do dia da defesa nacional
Deixa-se a nação sem defesas
Depois da divida publica
Vem logo logo a seguir
A factura privada
Depois da invenção da electricidade
Dá-se à luz ideias de cabeça de fósforo
Depois dos prós e contras
Conclui-se que afinal foi fora de jogo
Depois da invenção do telemóvel
Inventamos um amigo imaginário
Depois das trancas à porta
O ladrão descobre a janela
Depois da tempestade
Já não vem a bonança porquê?
Depois disto tudo
É natural que me sinta estúpida