Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Estórias do mê Alegrete...não deixes para amanhã...


Vocezis nem vão acreditar nos que vos tenho pra contari, nem eu sei se acredite ainda…
Mas foi assim, onti à nôti nam drumi..nadica memo!!!
Nam sei se era aquela coisa moderna das insónias ou a falta de sono que se apoderou de mim..mas logo logo pinsi que só podia ser uma das duas.
Deiti-mi como faço sempre, ospois de me lavar e apagar o candeeiro como nam podia deixar de seri..éi queu cá nam consigo mesmo drumir com as luzes nos zolhos.
Bem, deiti-mi, tapi-me, aconchegui-me nos lançois e fechi os zolhos….esperi..esperi mas nada. Fechi os zolhos com mais força ainda mas..nada de nada.
Reviri-mi na cama e prócuri outra posição, as cruzes por vezes començam a moer-mi…mas nada!
Foi então que no meio daquela escuridão toda comeci a ouviri um tic tic tic tic no quarto..acendi a luz do candeeiro e dei logo com a origem do tal barulho…atão não querem lá veri que os mês chinelos de quarto andam numa andança que só visto de um lado pro outro?
Nam quis acreditar, esfregui os zolhos e volti a olhar melhor…mas lá estavam os malandro na mesma, andavam sem parari plo quarto fora..alevanti-me e tenti pegar no robi pra nam ter frio enquanto ia apanhar os malandros mas eis senão quando o magano do robi nam veim….de braços cruzados sentado no cadeirão do quarto..ficou-se-me ali assim a desafiar-me.
Fiquei incognita..ou incregnita…ou incrodola ou lá o que ei..mas nam me adiantou de nada..ele nam se mexia e os chinelos nam paravam..
Olhi pro candeeiro que começou a acederei e apagari mesmo ali à frente dos mês zolhos….o livro que andava pra leri há séculos, que estava tam lindo e sempre sossegadinho encima da mesa, começou a abrir e a fechar..o penico que tinha debaixo da cama, pro mondi as fezis que me chegam assim de repelão, começou a saltari como doido…parecia que o mundo todo tinha enlouquecido e só eu estava a ver o fim do dito.
Fugi do quarto a sete peis, sem antes fechar atrás de mim a porta com a chave que estava sempre no lado de fora da dita…nam fosse o caso de eles virem atrás de mim. Entrei na casa de banho a suar por todos os lados…já com afrontamentos e tonturias…agarri-mi ao lavatório e de cabeça baixa para me virem os ares ouvi….pssiuuuuuuuu…psssttttttttt…psssiuttttttttt ou assim..olhi e no espelho estava uma louca, só podia, cabelos no ari e os zolhos esbugalhados e fazia aqueles sons estanhos enquanto piscava um dos zolhos pra mim..
Socorrooooooooooooooooooooooooooo, griti eu.
Fugi novamente dali e fui correndo até ao monti do Ti Chico, apanhi-o ainda a drumiri mas na quis saberi…abani-o, sacudi-o. Bati-lhe na cara cas duas mãos e no fim jogui-lhi com o copo de agua com a dentadura que ele tinha sempre ali a jêto.
Lá consegui…ufff
Sentou-se na cama a olhar pra mim assim com ari de poucos amigos (cada um tem o seu acordari nei?)..
Ai Ti chico vocei tem que me ajudari, disse-lhe assim com o mê ari mais aflitinho que aranji no momento.
Agora comadri? Disse ele..
Agora compadri. Disse eu..
Agora comadri?? Disse ele novamente sem se mexer da cama.
Agora compadriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Disse eu já a puxar o dito debaixo dos lençois…assim com bons modos pra nam aleijar.
Pronto nam se zangue, vamos lá a saber o que é que se passa..hoji. Disse ele.
Tenho a consciência à solta pla casa compadri.
E nam me larga enquanto eu nam fizer o que tenho que fazeri..
Ele já vestindo as ceroulas, a camisola interior, calçando dois pares de meias, as botas caneleiras, vestindo uma blusa de lã e a samarra disse:
- Vamos lá tratar da horta melher, é sempre assim, se sabe como ei porque raio nam faz as coisas quando têm que ser fêtas??
Mulheres!!
Ainda levanti o dedo pra lhe responderi mas pinsi melhori e resolvi deixar a resposta para depois do servicinho fêto…
Assim foi, os dois juntos apanhamos o grão, colhemos batatas, couves, feijão verdi, vimos se havia ervas daninhas no canteiro da hortelã…colhemos laranjas, maçãs e peras, alguns kiwis (ainda estou pa saber como raio estes foram lá parar..) seguimos pro galinheiros e depenamos dez galinhas e um galo, matamos o porco, demos de comer aos coelhos e ordenhamos vinte e duas vacas. Corremos ainda a tempo pro olivali e varejámos cento e duas oliveiras, apanhámos as zêtonas e ensacamos, carregámos o carro das bestas…e antes que o galo cantasse fugimos até ao estábulo para dar a palha ao burro…foi nessa altura que se jogámos pro monte de palha e o Ti Chico ainda com força pra rir e mangar comigo disse:
Comadri..ê cá já nam tenho a força de antes, se nam se importa agora dromi sozinha…e dizendo isto foi-se!
O galo cantou à hora certa, cheguei a casa e estava tudo no lugar de sempre…
Deiti-mi e quando estava já quase quase a drumiri ouvi um som estranho vindo do guarda fato….pegui na bota e atiri-lha.
Até prá consciência há limites!
Amanhã logo agradeço ao Ti Chico

Estórias do mê Alegrete...3 dias é muito tempo!


Atão vocezis já devem saber que neste dias parece que é carnavali nei?
Pois, com isto das netis as noticias espalham-se pior que o pólen dos meus malmequeres do campo…depois queixam-se das alergias e assim..
Bem, mas o que vos queria contári é que apanhi um susto tam grandi, mas tam grandi que nem sei como nam fiqui estatelada naquele dia..
Ora foi assim que tudo se passou:
Estava um lindo dia de chuva e quando acordi nam me apeteceu alevantari logo, fiqui-me assim como a fazer nenhum, estendidinha a olhar pró tecto….foi ai também que pensi que tinha que limpar o candeeiro e o telhado, mas passou-me logo esse pinsamento.
Beim, fiqui-mi mas nam pode seri por muito tempo…ouvi logo de seguida um barulho vindo do alpendri assim a modos que um cacarejar diferente…
Hummm pinsi eu, querem lá veri que é as galinhas por mondi a chuva que virem abrigar-se no mê alpendri??
Mas não…mal tive tempo de apanhar o robi e calçar os chinelos de quartos…sim, os tais lindooooos que compri na feira de Castro.
Sai prá rua e dei de caras com duas maçãs rainetas ( ou seriam Rei' nam..eram gajas só podiam ser Rai..) a barafustari e gesticular como doidas..
Tentei acalmar os ânimos mas a sorte foi que o feijão frade já se tinha metido entre as duas (só não entendo porque raio nam fazia nada e ficava apenas a levar encontrões duma e doutra e com uma cara cada vez mais pateta..enfim..)
Depois de conseguir segurar uma pelo pei, a coisa acalmou e eu lá pudi falari..
- ora então que raio vem a ser este escabechi logo pla manhãe? Hum??
Disse eu fazendo uma cara daquelas….pois!
Foi então que a mais verde das duas se resolveu a contari o que passava..tinha sido o Ti Chico que logo de madrugada passou pelo pomari e olhando pras elas disse:
Ainda não estão boas nam senhori! E abalou a apanhar laranjas..
E desde ai que começou esta confusão, uma diz que a outra éi que éi verdi, a outra diz quei a outra..a modos que se pegaram.
Ora ora ora…disse eu sem saberi mais que dizeri..
Depois fez-me luz…era o raio do sol a se levantari…
Franzi-me os zolhos e sem dar conta fiqui com cara ainda de mais zangada e olhando pras duas maçãs resolvi dizeri:
Ide..ide mais é trabalhari…
E elas foram..
Com a toalha ao ombro, oculos de soli e com um pote de creme de cinoira nas mãos.
Pinsando eu que a coisa estava mais calma mas qual nam foi o mê espanto quando vi viri ao longe um grande ajuntamento de nabos a cantari..mãma eu quero…mãmã eu quero…com duas cinouras a bater em tampas de tacho, um pupino disfarçado de couve flor, duas alfaces em bikini, uma couve de Bruxelas vestida de baiana e um tomate disfarçado de ketechupi.
Pari e nem me mexi..deixi-os passari como se nem os visse…
Ospois mal eles já iam direito ao monti do Ti Chico…corri com toda a força que tinha e só pari no adro da igreja..
Ajoilhi-me mali vi a cruz e fechi os zolhos com toda a força que tinha..
Rezi, rezi, rezi..quer-se dizeri..canti a musica da reza mas sempre mãos postas po senhori…
E já era quase noti quando me quis alevantari e nam consegui…
Eu bem sabia que nam me devia ajoelhari assim tanto tempo..mas a aflição era tanta que esqueci as doris.
Passou um pêro daqueles das feiras, olho-mi desconfiado…eu estendi a mão e com tanta dori só me saiam uns sons pla boca…
O magano mete-me uma moeda de 1 aerio na mão e disse..
Melhor que isto só o Ti Chico vestido de matrafona..
E abalou a rir rua fora…
Nesse momento saiu a Ti Miséria da igreja, trazia uma roupa de freira e comia qualquer coisa cas mãos, ria a bom rir..olho-me e disse:
Cumadri devia ser mais que três…isto assim ei que ei uma alegria.
Hummmm, pinsi eu ainda de joelhos no chão e toda torcida cas dores…e atrás da Ti miséria vinha o senhori Priori a mexer-se muito, esfregava as mãos e com um sorriso maroto na cara, olhou a miséria e disse…vamos lá cumadri, hoje carnivali (ele tinha um problema na fala mas hoje parecia piori)..e de braço dado desapareceram-me das vistas.
Nam me aguenti com o que pinsi..nam podia seri!! Nam queria acreditari!!
“deviam ser mais que três? Hoje carnivali?”
Senti-me e só me mexi dali quando o Ti Chico passou..e vi que levava a minha combinação, os colotis e o espartilho que eu deixara no estendal no dia anterior…
Isto de ser a única a andari normali nestes dias não é muito bom nam senhori…mas nam me consigo juntar a grupos quei que querem!!!
É por estas e por outras que a época que mais gosto é o Natali…plo menos sempre se vestem de virgens e de santos.
A sorte é que são só três dias…
Deiti-mi e esperi que passasse…
Ospois conto como foi o mê acordari ao fim do sétimo dia…
Hum?
Tão, uma pessoa nam podi andar cansada??