Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Estórias do mê Alegrete..Não lhe olhem pró tamanho

Tenho andado com tantas fezis que nem vontadi tenho tido de vos incomodari cas histórias do mê Alegrete.
Acho que atei é um crime chamar-lhe Alegrete nestes últimos tempos…se bem que palhaçada tem havido muita e a barraca dos artista do circo estar montada aqui há alguns anos..
Beim, como ia dizendo..já há alguns dias que a Ti Miséria nam pára de chorari, vai-se sumindo a olhos vistos. Chora e ri, ri e chora, desfalece todinha e no fim de dois suspiros seguidos, daqueles de quem se vai finari, cai estatelada no chão esteja onde estiveri..no outro dia ficou-se nos braços do Ti chico, que como sofre dos ossos e dos bicos de papagaio, nam aguenta muito tempo ca miséria nos braços e desata a gritar por socorro.- Tirem-me esta miséria de cima, grita ele só se calando quando eu lhe consigo tirar a dita e a coloco deitadinha no chão.
Naquelas alturas nam sei beim qual dos dois acudiri primeiro, giralmente ei ao Ti Chico só pra que o homi se cali mais depressa…a Ti Miséria este mês já se teve aquela travadinha vai prai quatro vezis…só lhe passando quando lhe desaperto a roupa e lhe dou a cheirari e a buberi, uma mesinha feita com alho porro, um cravo de cabecinha (vermelha), duas folhas de trevo de quatro folhas (ou serão quatro de um de duas? Bahhhh numaros!), um fiozinho de canja de galinha, sali e duas colheres de óleo pra coisa deslizari melhori.
Depois de buberi isto a Miséria fica quase como nova e começa a pedir desculpa por tudo e por nada, ele ei ao Ti chico por lhe ter dado aquele peso, a mim por lhe ter que andar sempre a ajudari, ao mundo em girali por existir e passado pouco tempo já ta a chorar e a rir novamente…até à proxima sulipampa…
O médico que passa por aqui duas vezes por mês, já nos disse que suspeita que seja dos nervos e diz que aparenta ser crónico, diz que ela devia distrair e nam pensari tanto na vida…como se isso fosse coisa pra nam se pensari!!
Mas pronto, hoje nam a vi ainda e resolvi tratar da bicheza e do hortejo primeiro e só despois ir ver como ela andava.
Mal chegui ao currali dei de caras cas vacas de tetas cheias e nam paravam de fazeri mummmmmm mummmm mummmmm…aflita comecei a ordenhar as maganas e só depois vi que a Ti Miséria estava ali a olhar pra genti com um leve sorriso na cara.
Nam tive tempo de grande converseta pois tive que ordenhar as 10 vacas três vezes cada uma e correr de um lado pro outro a meter o Leti em tudo que era baldi, taça, copo, tacho, banheira, alguidari…uffff
Já era quase meio dia e nem tinha ido veri as couves, fiqui preocupada com o aumento de produção, mas assim como assim fui ao resto da lide e ospois logo via, nem que fizesse queijos ou bolo de requeijão…nam se haveria de estragari nam senhori.
Ia a caminho da horta quando dei de caras cu ti Chico encostado ao chaparro de sempre, olhava as ovelhas e as cabras de longe e volta e meia assobiava ao Tejo pra que ele nam se distraísse e fosse ajuntando as maganas. Ele fazia contas com uma daquelas manicas que se compram nos chineses, até nam sei como aquilo funciona pois nam acredito, a ver pla diferença das letras, que os numaros deles batam certos cas nossas contas. Mas adienti…senti-me um pouco junto deli e tentei saberi o porquei de tanta conta fêta naquilo. Ele, com aquele ari de sabido que me deixa sempre irritada, arrespondeu-me que estava a fazer contas ao Iva que iamos ganhari ca venda do leti, pois a miséria já lhe tinha contado o sucedido. Nam entendi nadica daquilo, mas a ideia nam me cheirava muito beim. Mas como sempre que começo a desconversar com ele perco ano e dia, arresolvi deixar a conversa assim e segui em frenti.
A meio caminho vi ao longe umas orelhas arrebitadas, a modos que me pareciam dum coelho, baxi-mi e deixei-me ficar em silencio e caladinha por mondi nam o afugentari ..e nam ei que era memo um coelhoo?? Era pois! E ali estava em grande rebaldaria roendo uma cinoira bem alaranjada enquanto à sua volta se juntavam uns quantos grilos, uns Com e outros Sem casaca virada.
O magano parecia estar a preparari alguma, senti-mi novamenti mas nam foi preciso ficar-me muito tempo sentada, afinali nam estava! Roia a cinoira e os outros cantavam de grilo em volta deli, roia mais uma cadinho e vá de canti..cantavam e ele roia…puff cansi-mi!
Segui em frente novamenti e chegui-me perto do canteiro dos pézinhos de salsa, ali nam se passava nada de novo. Como sempre havia um pei maior cus outros e que baloiçava com um ari arroganti. Consta em todo o alegrete que desde sempre que anda com a mania das grandezas, já em novo dizia quereri estudar, nem que fosse ao fim de semana, pra seri dotori ou engenheiro e que o fituro era deli.
No momento em que me ia aproximari soprou uma ventania ali dos lados do Rosali de La fronteira que tive que me agachari pra nam cairi.
Agachada estava cu nariz quase junto ao chão que dei com um carreiro de formigas, no seu vai e vem diário, carregando migalhinas nas patas.
Eram muitas e cheias de genica, nam paravam de andari de um lado pro outro, juntando o pouco que conseguiam num buraco ali nam muito logi.
Fiqui a pensari na vida destas formigas e na força que se consegui teri mesmo sendo pequeninas.
Sou assim, quei que querem? Nam consegui evitari de ficar ca emoção nos zolhos.
Ao longe o Tejo ladrava, já seriam horas de guardar o rebanho. Por esta altura o Ti Chico já teria terminado as contas do lêti e a Ti Miséria, se nam tivesse tido outra sulipampa entretanto, já estava a chegari a casa tambeim.
Ergui-mi num de repenti..assim cheia de vontades de fazer alguma coisa de jêto antes que a noti caísse e já fosse tardi …corri com quanta força tinha direito ao chaparro do Ti chico, mal chegui tive que me encostari ao tronco e descansari um pouco até que me recompus e consegui falari..
Nem repari na cara de amuo que ele tinha e disse:
Ti chico, já sei qual ei o nosso mali!
Quei? Disse-me ele sem levantari os zolhos do chão.
Sei sim senhori!, disse eu convicta de que ele iria ficar encantado com a minha descoberta.
Atão vocei já deve ter visto as formigas a trabalhari nei?
Quem nam viu comadri? Arrespondeu-me com o mesmo ari de desinteresse.
Pois…
Atão compadri imagine que eramos todos formigas.
Hum? Ca porra comadri pra que raio vocei queri que a genti seja formiga?
Carni têm pouca, mal se vêem, nem dam leti nem nada! Disse ele meio confuso.
Compadri, arrespondi-lhe com o meu ari de heroína que sabia teri cada vez que me alembrava duma coisa que ninguem se tinha alembrado antes..
Compadri, arrepeti, a gente, mas a genti todos, mas todos todos, assim todos em girali entendi?
Sim comadri, todos é todos ora! (disse ele dando mais atenção à manica que deixara de funcionari do que a mim)
Pronto compradi estão a ideia era essa mesmo..se fossemos todos trabalhari comos as formigas e a modos que so conseguissemos levari uma migalhina em cada pata o Alegrete nam teria chegado a isto!
Hum comadri?
Quer-se dizeri, continui, a modos que nam tínhamos uns com mais migalhas que outros entende?
Pois, talvez comadri, talvez…disse!
Irritada com aquele desinteresse…corri caminho do monti e antes que fosse noti usei todo o leti da ordenha da manhã pra fazer um requeijão…e ospois com este fiz bolos de todos os tamanhos e feitios.
Deti-mi sorrindo sem conseguir imaginari as cara do Ti Chico e da Ti Miséria quando dessem com aquilo pla manhã..
Mal drumi..atei acho que eram formigas que via a passar no tecto a noti inteira..
Assim que o sol nasceu e o galo fingiu que cantou (sim, desde algum tempo que já nem o galo canta como antes..)
Alevanti-mi, pegui nos bolos e foi pro campo espalhando as migalhas por todos os cantos e recantos..junto ao chaparro, ao galinheiro, na horta e no pomari…
Uff estava tão contenti a distribuir o resultado da produção por todo o Alegrete que nem arrepari que pisi um pé de salsa..ao longe vi o Ti Chico, era dia de caça e lá ia ia em busca de coelhos.
Caso tivesse sorti esta noti fariamos um belo jantari e convidaria a Ti Miséria..
Coelho à Alegrete, e nem o pezinho de salsa faltava!
Nem sabia ainda qual a reacção do Ti chico quando visse o que eu tinha fêto com tanto leti..assim como assim a manica nam funcionava e aquela coisa do iva não me pareceu seri coisa que se comessi…
Senti-mi..enquanto via as formigas mais atarefadas que nunca…
Soprou um vendo vindo dos lados do estrangeiro novamenti…parecia já nem ser tão forte ou então era eu que já não me deixava abalar por ele..sentia-me forte como as formigas no carreiro.
Há coisinhas que têm muita força mesmo sendo pequeninas…
E foi ai que me alembri do Papa Formigas…







3 comentários:

  1. Ai comadri comadri que essa alembradura do Papa formigas não lembrava nem ao Papa e olhe que esse lembra-se de cada coisa!
    Tenha cuidado com os ventos que vêm lá do rosal de la frontera, que são sempre ventos que nã trazem grande coisa. Quanto ao Iva eu cá creio que foi uma oportunidade perdida de resolverem o problema da ti miséria. Tomado às colheres ou então num copo de lête era tiro e queda.
    E mais não digo senão ainda fico aqui com um alegrete maior que o da comadri, que não perdeu a mão nem o pei para estas coisas.
    :-)
    Apareça sempre, mesmo que não leve o raminho de salsa.

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  2. este esta bem diferente do outro.ta muito interessante.mas vou voltar ao outro para já

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cavadelas