Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ESTÓRIAS DO MÊ ALEGRETE ..e outras coisinhas do campo IV




No dia da revolução eu cá nam saí à rua. Fiqui-me deitada esperando que alarido passasse ouvindo na rádio aquelas canções que agitam as massas . . .dizem que foram discos pedidos mas cá eu nam sei, não ouvi a frase. Lá fora, os cravos faziam das suas..tal como eu tinha pensado..andavam de mão em mão, de boca em boca, doidinhos de um todo… Ca pra mim esta coisa da liberdade é bonita mas tambeim não precisam fazer tanto alarido. As únicas que ainda mantinham alguma compostura eram as couves de Bruxelas, ficaram-se ali a olhar com um sorriso meio parvo como se nada fosse com elas. Os tomates (mesmo os pequeninos e verdes) estavam completamente fora… do seu canteiro, as cebolas choravam, como madalenas arrependidas, gritando vivas aos cravos que se passeavam nos carrinhos de mão todos vaidosos. O feijão frade aproveitou toda aquela movimentação e saiu também aos gritos “amor livre..amor livre”. As galinhas, já sem penas, corriam ribanceira abaixo e a cantar de galo. O galo ficou sem piu e fugiu prá quinta do me compadri Jaquim (dizem que ainda o apanharam a tentar disfarçar a coisa, com sotaque brasileiro e tudo). Bem, o me alegrete estava numa agitação nunca vista e eu só receava ter o burro nas couves…mas já que estava deitada drumi-mi. Nem sei bem quanto tempo passou, quando acordi sai meio zomza da cama , calci as botas do trabalho, pranti o aventali bordado à mão e o me lindo chapéu de palha ,com malmequeres amarelos, na cabeça por mondi o soli. Abri a porta ainda devagari por mondi nam acordar ninguém, agarri no cesto e na enxada e raspi-me alegrete fora. Olhi, olhi e volti a olhar…logo logo, tirando nam ter ouvido o galo cantari, nam achi nada de estranho..passando plo canteiro dos pés de salsa é que tudo me veio á mimória. Em vez da salsa estavam lá uns coentros armados em pezinhos novos, falavam muito em povo e barafustavam com as mãos no ari. Hum (pinsi eu), querem lá ver que agora para fazeri a açorda vou ter que me por a cheirari os pezis primeiro?? (é que eu nam me enganava nos temperos por mondi eles estarem sempre no lugar certo..) No galinheiro já quem cantava de galo eram as galinhas sem penas, os porcos já nam eram os mesmos (pareciam mais brancos mas plo cheiro nam me enganavam, eram porcos!!!) Estava quase a ficar convencida que o me alegrete tinha mudado pa melhor quando me lembri de mim. Sim, qual o me lugar agora no meio de tanta confusão?? Comeci a ficar nervosa..com tonturias, almareios, gomitos, sem forças nas canetas, já nem conseguia falari e foi quando me alembri que sabia falar com gestos (os tais que valiam à volta de mil palavras)..já quase a cair ainda tive tempo de alevantar a mão pa pedir ajuda, sem saber bem o que dizia, alevanti o dedo indicador e o outro (o tal que quando sozinho parece tal e qualmente um palavrão)..e qual nam foi o meu espanto que do de todo o lado me respondiam com o mesmo gesto. Ele era o Molho de brócolos, as alfaces, as cinouras, as couves, os coentros, a salsa, os rabanetes, os pupinos, a fruta (estava pior que uma salada toda misturada), os animais..enfim, tudo o que mexia no me alegrete estava de braço no ari e a repetir o meu gesto enquanto gritavam “Vitória, Vitória” Então querem lá ver que eu estava quase a morrer de aflição sem saber o que seria feito de mim e eles ainda cantavam vitória?? Ospoi ao longe cantou o galo… Eram horas !! alevanti-mi ainda a tremeri, não sei se dos nervos se de raiva mas… SONHOS assim só no me Alegrete!!

2 comentários:

  1. Pena os sonhos não durarem para sempre...

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  2. :)eu também ainda sou do tempo dos discos pedidos tipo quando o telefone toca... olhe a frase é a seguinte: Para comprar electrodomésticos vá à Meca, o disco é... :) Este é o que se pode chamar de um sonho revolucionário. Os pormenores das histórias anteriores lá continuam coerentemente. :) Beijinho.

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cavadelas