Era tão boa a vidinha no campo...







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Estórias do mê Alegrete...3 dias é muito tempo!


Atão vocezis já devem saber que neste dias parece que é carnavali nei?
Pois, com isto das netis as noticias espalham-se pior que o pólen dos meus malmequeres do campo…depois queixam-se das alergias e assim..
Bem, mas o que vos queria contári é que apanhi um susto tam grandi, mas tam grandi que nem sei como nam fiqui estatelada naquele dia..
Ora foi assim que tudo se passou:
Estava um lindo dia de chuva e quando acordi nam me apeteceu alevantari logo, fiqui-me assim como a fazer nenhum, estendidinha a olhar pró tecto….foi ai também que pensi que tinha que limpar o candeeiro e o telhado, mas passou-me logo esse pinsamento.
Beim, fiqui-mi mas nam pode seri por muito tempo…ouvi logo de seguida um barulho vindo do alpendri assim a modos que um cacarejar diferente…
Hummm pinsi eu, querem lá veri que é as galinhas por mondi a chuva que virem abrigar-se no mê alpendri??
Mas não…mal tive tempo de apanhar o robi e calçar os chinelos de quartos…sim, os tais lindooooos que compri na feira de Castro.
Sai prá rua e dei de caras com duas maçãs rainetas ( ou seriam Rei' nam..eram gajas só podiam ser Rai..) a barafustari e gesticular como doidas..
Tentei acalmar os ânimos mas a sorte foi que o feijão frade já se tinha metido entre as duas (só não entendo porque raio nam fazia nada e ficava apenas a levar encontrões duma e doutra e com uma cara cada vez mais pateta..enfim..)
Depois de conseguir segurar uma pelo pei, a coisa acalmou e eu lá pudi falari..
- ora então que raio vem a ser este escabechi logo pla manhãe? Hum??
Disse eu fazendo uma cara daquelas….pois!
Foi então que a mais verde das duas se resolveu a contari o que passava..tinha sido o Ti Chico que logo de madrugada passou pelo pomari e olhando pras elas disse:
Ainda não estão boas nam senhori! E abalou a apanhar laranjas..
E desde ai que começou esta confusão, uma diz que a outra éi que éi verdi, a outra diz quei a outra..a modos que se pegaram.
Ora ora ora…disse eu sem saberi mais que dizeri..
Depois fez-me luz…era o raio do sol a se levantari…
Franzi-me os zolhos e sem dar conta fiqui com cara ainda de mais zangada e olhando pras duas maçãs resolvi dizeri:
Ide..ide mais é trabalhari…
E elas foram..
Com a toalha ao ombro, oculos de soli e com um pote de creme de cinoira nas mãos.
Pinsando eu que a coisa estava mais calma mas qual nam foi o mê espanto quando vi viri ao longe um grande ajuntamento de nabos a cantari..mãma eu quero…mãmã eu quero…com duas cinouras a bater em tampas de tacho, um pupino disfarçado de couve flor, duas alfaces em bikini, uma couve de Bruxelas vestida de baiana e um tomate disfarçado de ketechupi.
Pari e nem me mexi..deixi-os passari como se nem os visse…
Ospois mal eles já iam direito ao monti do Ti Chico…corri com toda a força que tinha e só pari no adro da igreja..
Ajoilhi-me mali vi a cruz e fechi os zolhos com toda a força que tinha..
Rezi, rezi, rezi..quer-se dizeri..canti a musica da reza mas sempre mãos postas po senhori…
E já era quase noti quando me quis alevantari e nam consegui…
Eu bem sabia que nam me devia ajoelhari assim tanto tempo..mas a aflição era tanta que esqueci as doris.
Passou um pêro daqueles das feiras, olho-mi desconfiado…eu estendi a mão e com tanta dori só me saiam uns sons pla boca…
O magano mete-me uma moeda de 1 aerio na mão e disse..
Melhor que isto só o Ti Chico vestido de matrafona..
E abalou a rir rua fora…
Nesse momento saiu a Ti Miséria da igreja, trazia uma roupa de freira e comia qualquer coisa cas mãos, ria a bom rir..olho-me e disse:
Cumadri devia ser mais que três…isto assim ei que ei uma alegria.
Hummmm, pinsi eu ainda de joelhos no chão e toda torcida cas dores…e atrás da Ti miséria vinha o senhori Priori a mexer-se muito, esfregava as mãos e com um sorriso maroto na cara, olhou a miséria e disse…vamos lá cumadri, hoje carnivali (ele tinha um problema na fala mas hoje parecia piori)..e de braço dado desapareceram-me das vistas.
Nam me aguenti com o que pinsi..nam podia seri!! Nam queria acreditari!!
“deviam ser mais que três? Hoje carnivali?”
Senti-me e só me mexi dali quando o Ti Chico passou..e vi que levava a minha combinação, os colotis e o espartilho que eu deixara no estendal no dia anterior…
Isto de ser a única a andari normali nestes dias não é muito bom nam senhori…mas nam me consigo juntar a grupos quei que querem!!!
É por estas e por outras que a época que mais gosto é o Natali…plo menos sempre se vestem de virgens e de santos.
A sorte é que são só três dias…
Deiti-mi e esperi que passasse…
Ospois conto como foi o mê acordari ao fim do sétimo dia…
Hum?
Tão, uma pessoa nam podi andar cansada??

4 comentários:

  1. Já pensaste em publicar os teus textos?

    Adoro esta pronúncia alentejana.

    beijo

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  2. Beim, atao vou aqui deixar uma estória de aparcediços la da minha terra... qu' a minha comadre ja me disse ca podia plantar aqui (...)e ê bem sê qu'á muita cabresto perdido por estas charnecas lindas do nosso Alintejo.

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  3. Atão foi assim... la na minh aldeia havia muita fama de aparcediços, vocemessês nem imaginam, tenho de contari que aqueles sítios foram pasto de mouros de arromanos e gregos, fenícios e maurícios a dar com um pau. Entao muita moura encantada saltava a cada pontapé nos calhaus que afinal eram "perigos" As comadres não sabem nem os compadres mas os ditos perigos eram umas pedras que caiam com os lâmpagos, os trovões e as faíscas e conforme a forma que tinham assim provinham de raio de tronco grosso ou em modos de ramos de chaparro arvoreando pelo céu abaixo direitinho ao chão. Isto foi o que me contou a minha avó que era senhora de virtude e benzedura santa, tanto a cortar o mal d'inveja como a dor de quebranto e o pé torcido e ela disse tambem que o povo era tolo e que as pedras eram utensílios de gente que ali viveu ha muito tempo nas várzeas do rio. E assim a minha avó ia falando destas coisas e me levava pelas veredas ladeadas de caniços e madressilva onde colhia as boas ervas para fazer tinturas e remédios pagãos.

    E sabendo desses aparcediços e das estótias dos potes cheios de ouro e mouras encantadas fechadas e guardadas por bravo touro nas profundezas da terra, encerradas por pesadas lajes assim fui cultivando o entendimento por via de ouvir tal testamento.

    E entre tantas estórias que conheço vos conto uma em particular que foi caso de arrepiar em tempos que ja lá vão quando só lenha e carvão o povo tinha para cozinhar e algum azeite de alumiar.

    Pois foi que andou a aldeia inteira num medo e tremideira, por todas as noites em hora certa lá pro monti da prim' Alberta, uma luz muito medonha que passava e uma ladainha do demo se entoava que muita gente nao queria ver e as janelas fechava. Mas os mais afoitos, homens de pau e de navalha, juntavam se e se prometiam que ainda talvez um dia se ajuntariam numa força de coragem e ao demo quem fosse ainda os chifres lhe partiam. Entre medos e arrufos nao havia quem lá fosse nao seria coisa do inferno e diziam que o Eterno ao lume os condenava nos tratos que tivessem com a negra fera que odiava toda a gente e que num repente se lhes fizesse frente com enxofre e coisa rara.

    Mas havia na aldeia como em todas as nossas hái um madraço pobre parvo que a em tudo caía sem agravo; a mosca nao fazia mal mas nao percebia um comboio na ponta de um jornal. E foi esse que foi descobrir o segredo do boi. Ao sitio do caminho do monti o mandaram ficar de plantao e logo que passasse o carroçao puxar lhe o lençol que escondia a luz do diabo e que aquela gente trouxera tao negro fado. Era entao o senhor padre cura homem santo afinal nem tanto que as noites na madrugada visitava a viuva, a prima Alberta, e sempre a hora certa, seguindo aquela estrada com a candeia acesa debaixo dum lençol ia cantando a missa em latim e dizendo sou o demo nao venham perto de mim e assim mantinha o povo afastado, ignorante medroso coitado, enquando ele ia aquecer a cama ja aberta da nossa parente Alberta.

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  4. Bonitas histórias [(ambas as duas :)] Dizem eles que o Senhor fez o mundo e ao sétimo dia descansou... A menina descansou e ao sétimo dia??? irá fazer o mundo?

    Beijinho.

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cavadelas