Era tão boa a vidinha no campo...







quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009





Hoje alevanti-me com muitas fezis,que é como quem diz (aqui no me alegrete) muitas preocupações e a cabeça feita num oito de tanto pensar. Ora beim, alevanti-me, lavi-me, vesti-me, calci-me, nam me pinti porque só os faço em dias de festa (e só besunto os beços, gosto da beleza ao naturali) comi e bubi o cafei da manhãe e fui logo tratar da bicheza antes que fosse mais tarde e começasse tudo num reboliço. Sem tempo a perder, dei o milho aos porcos , às galinhas o fardo de palha e ainda tentei ordenhar uma ou duas mas ospois desisti, as maganas estavam meios secas e eu tinha mais que fazeri, às vacas vi se tinham ovo (nam tive sorte) e deixi-lhes alpista, nam me preocupi com as ovelhas pois sabia que as tinha regado ontem quase à noitinha, segui plo canteiro dos manjericos e vi que estavam quase no tempo de os ceifari, talvez pa semana, as couves andavam num vai e vem, pra não variar, mas nem as tenti colocar no lugar, um passeio matinal faz bem a qualquer um. Ouvi atrás do chaparro um tal som que me fez lembrari do Feijão Frade..e plo piar, desta vez estava com o raio da gata (já não lhe punha a vista em cima desde ontem pla hora do almoço)mas tbm nem ligui, ospois trataria de ter uma conversinha com ele. . .daquelas que já devia ter tido, quando um belo dia ele me perguntou como raio fazia para colocar uma camisa e depois não me deixou veri se lhe ficava bem..mas enfim, só desconfiei quando me começaram a aparecer à porta as cestas com feijões pretos e outras com feijões canários. Bem, tinha o Alegrete tratado podia ir tratar do resto, hoje era dia de ir lavari à rebêra e nam me podia atrasari, o sol quando aperta nam me deixa com genica para os esfreganço, tinha que chegar antes que ele ficasse a pique. Coloqui a trouxa da roupa no alto da cabeça, uma mão em cada anca e lá fui eu ladeira abaixo toda lampreira. Quando chegui, pranti a trouxa no chão, olhi em redor e lá estava a minha pedra de lavari no mesmo sitio aondi a deixi na ultima vez (é bom ver que algumas coisas não mudam), ajoelhi-me e comici pla roupa branca, sim, tudo tem um preceito de se fazeri, e eu cá a lavar sigo sempre a mesma ordem. lençois, toalhas, saias, camisas, corpetes, ceroulas, cuecas e outra roupita intima e só no fim os mês lencinhos de assoar todos bordados à mão. Depois de bem ensaboados, coloco a roupita a arear assim tudo plas moitas de estevas para lhes dar o soli , só ospois passo novamente pla agua da rebêra e troço tudo muito bem. Tenho dias, quando o tempo ajuda, que enquanto as deixo a arear e ospois a secari, vou dar uma voltita plas margens, apanho caracóis, espargos, agriões ou então deito-me um pouco debaixo de um chaparro a ouvir a agua a correr e os passarinhos a cantari..é mesmo linda a vida do campo! Hoje, estava eu no belo do meu passeio enquanto a roupita secava, aressolvi assentar-me num pedregulho junto à agua e entretinha-me a jogar as pedrinhas pró charco (manias). Estando eu nesta bela entretenham comeci a sentir uma coisinha estranha, assim a modos que quando nos sentimos observados, mesmo muito, mas não sabemos porquê nem por quem. Olhi em redor, uma e outra vez mas nada vi…mas de repente, mesmo ali ao meu lado ouvi Chuac..ou croaac..ou lá como foi! Assuti-mi, alevanti-mi ainda com uma pedra na mão e fixei (com os tais zolhos nos zolhos) a criatura que olhava pra mim. Ai vocezis nem imaginam, era grande, verde, de olhos esbugalhados, viscoso e olhava-me com um ar de apaixonado que só visto. Croac..croac..continuava a criatura. Hummmmmmmm (pinsi eu) querem lá ver que este é um dos tais? Sim, um daqueles sapos encantados que só com um beijo volta a ser príncipes, lindos, louros, espadaúdos, ricos, e muito, muito apaixonados pela criatura que os desencantou?! Oh meu Deus me Deus! Oh meu rico São Tomás, o querido São Cristóvão, oh meus santinhos todos do céu (já aprendi que quando estou aflita, mas muito aflita mesmo, não faz mal nenhuma chamar plos santinhos todos, assim como assim temos sempre que ser nós a resolver o problema e fica sempre bem mostrar uma certa dependência das divindades). Resolvi ter calma e enfrentar a situação, respiri fundo e senti-me, olhi po bicho mais uma vez e…até que lhe comeci a achar uma certa gracinha ..não devemos julgar os outros plas aparências nei? e se fosse mesmo verdade? Olhi em redor mas nem vivalma (é sempre assim!! Almas so as do outro mundo em certas ocasiões!!) tomi coragem e agarri os bicho com as duas mãos. Ele nem tentou fugir e olhava-me com uns olhos de carneiro mal morto, mais uma vez me lembri do Feijão Frade..devia ser lindo se ele apanhasse este bichinho a jeito!! Até me senti corar com este pensamento e tentei fixar as ideias na criatura que me olhava cada vez mais carneiro e mais morto. Fechi os olhos, sei que estava franzida porque o me lenço da cabeça me caiu pás vistas (era melhor assim, nem via mesmo se abrisse os olhos), cheguei as mãos ao beços e quando estava quase quase nam é que o magano me bejou a mim?! Fiqui antónia, zonza, com tonturias como da outra vez mas nam caí, logo logo nem quis acreditar, mas era verdade! O sapo beijo-me!!! Blhackkkkkkk Que bicho mais parvo, então ele não sabia que tinha que ser eu a dar o beijo? Que assim ele não se transformava no príncipe belo, louro, rico, espadaúdo, valente e sei lá mais o que ?!!! Croaac croaac dizia ele e parecendo não se importar com a minha aflição saltou-me das mãos e foi apanhar moscas. Ora querem lá ver que vou ter que andar atrás do bicho?! Ainda o chami com meiguice, fiz boquinha e olhinhos de sapa apaixonada mas nada, o bicho tinha desistido de ser príncipe. Nam terá gostado do bejo? Terei apertado o bicharoco demais? Foi ai que me alembri que a roupa já devia estar seca. Fiz a trouxa e com o mesmo jeitinho de desci a ladeira voltei a subiri, trouxa na cabeça, mãos nas ancas e lá vai ela toda lampreira até chegar de novo ao me Alegrete. O sol já se punha mais uma vez, é um gajo de hábitos, sempre no mesmo local e à mesma hora (mais coisa menos coisa)..ainda é das poucas coisas certas no me Alegrete (não sei até quando). Parecia tudo normal ali, aceni a Ti Miséria que descascava favas junto ao canteiro dos alhos-porros, as couves andavam correndo como vacas loucas, os malmequeres choravam sempre que olhavam para os amores perfeitos, os nabos ficavam simplesmente ali..a ser nabos e eu sorri ao ver que no me Alegrete a vida continuava igual. Fez-se noite e cansada não resisti ao sono, ao aconchegar no travesseiro senti uma picadela na cabeça que fez dar um salto da cama. Ufff Tirei a coroa e adormeci como uma princesa de contos de fadas.

3 comentários:

  1. ómessa. se foi o sapo que te beijou, devias ter virado princesa sapa Já te viste ao espelho depois disso? :)

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  2. que sapo mais tolo comadri... na sobe olhar a princesa que tu és ;)

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  3. Não interessa quem beija quem, pois o beijo, se for "o tal" e partilhado no sitio certo, é algo bilateral... Talvez o sítio não tenha sido o certo, talvez o sapo não fosse dos tais... mas estou certo que a sua vida jamais voltará a ser a mesma depois de tal encontro. E para ti também teve efeitos pois livraste-te da confusão inicial que te levou a ordenhar as galinhas :) no regresso, after words, já viste o tê alegrete com outros olhos... digamos que foi "one inlightning kiss" :P
    Beijinho [(não sapista, e não viscoso ;)]

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cavadelas